Multiplicam-se por aí os saites e concursos de minicontos, microcontos, nanocontos ou que nome lhes queiram dar. As fórmulas sugeridas são muitas: contos com 6 palavras, com 50 palavras, com 100 palavras, com 100 caracteres, com duas frases... Para quem está treinando pra escritor, uma das primeiras oficinas deve ser a da contenção. Dizer muito em pouco espaço. Em certos cursos de roteiro, exige-se do roteirista que conte a história do seu filme em uma linha, em dez linhas, em uma página e em dez páginas. Se o sujeito é capaz de fazer isso satisfatoriamente, está bem encaminhado.
Contos
de “até 100 caracteres” foram requisitados pelo jornal Opção (aqui a reprodução
de todos os contos inscritos: http://tinyurl.com/pok2nyz)
em maio passado. A maior parte dos concorrentes mandou uma frase, uma reflexão,
um diálogo... Pra mim falta a muitos deles (por mais interessantes que sejam
como frases) o que caracteriza o conto: uma noção precisa de espaço, de ação,
de sequência (começo + meio + fim, ou qualquer equivalente a isto).
Veja-se
o texto de Alessandro Garcia (RS): “No começo, descrença. Depois, medo, ao ver
Bob – tão pequeno – olhando para a faca daquele jeito”. Temos aí não uma ação,
mas uma revelação gradual de uma situação potencialmente trágica. Para mim
equivale a um conto. O mesmo eu não diria deste de Geraldo Lima (DF): “O amor
daquele homem era doença. Por anos pediu socorro, mas ninguém a ouviu.” Há o
registro de uma situação, mas, ao contrário da outra, não há a sugestão clara
de um plot, um enredo possível.
Pode-se
neste curto espaço criar uma faísca de história com terror e humor ao mesmo
tempo, como Wilson Gorj (SP): “Morrer? Nem pensar! Deu três pancadinhas na
madeira… do caixão já coberto de terra.”
Ou brincar com a metalinguagem, como Débora Ferraz (PE): “Todos os
personagens desta história morrem antes de chegar à próxima linha.”, se bem que
neste caso não chega a ser um conto, pelo meu presente critério. Lucas Rossi
(SP) faz um bom flagrante do cotidiano: “Da janela, gritou pro vizinho: ‘sou
puta mesmo’. Depois, fechou a persiana e foi lavar a louça”. O flash é ótimo;
mas não existe um conto aí.
A busca pela contenção é uma luta que me paralisa...
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