Às vezes eu sonho acordado que sou um cara bem diferente de mim mesmo, vivendo uma vida que não parece nem um pouco com a minha.
É uma das minhas formas de terapia inexplicável. Inexplicável porque se fosse uma fantasia de riqueza, orgias, farras, viagens pelo mundo, boemia, glória literária, tudo isso seria muito óbvio: estou sonhando com o que gosto e não tenho, ou tenho e queria ter em dobro. Mas não é o caso. Sonho com coisas sem graça e que não têm nada a ver comigo.
Às
vezes sou um cara de 30 e poucos anos que vive sozinho numa casa minúscula.
Cozinho, esquento ou peço por telefone minha comida, lavo minha roupa, faço a
limpeza da casa. Minha casa tem mobília simples e pouca: poltronas, mesas,
geladeira, um som na sala. Não tem uma TV, um livro, um disco sequer. Nada nas
paredes além de um relógio redondo na sala e um calendário quadrado na cozinha.
Eu acordo, tomo banho, faço a barba, visto calça, camisa, calço tênis. Desço uma escadinha interna que conduz à garagem. Entro no carro, sento, ligo a ignição e sinto com prazer aquele ronco profundo, possante, prometendo motor em ordem e tanque cheio. Saio dirigindo devagar pelas ruazinhas tranquilas.
Eu acordo, tomo banho, faço a barba, visto calça, camisa, calço tênis. Desço uma escadinha interna que conduz à garagem. Entro no carro, sento, ligo a ignição e sinto com prazer aquele ronco profundo, possante, prometendo motor em ordem e tanque cheio. Saio dirigindo devagar pelas ruazinhas tranquilas.
Aonde
vou? Não sei. Não é para o trabalho. Meu trabalho é alguma coisa que me faz
passar semanas a fio longe dali; mas quando volto, volto para aquela casinha silenciosa,
as ruas, os gramados. Parece uma cidade americana ou européia, mas pode ser uma
daquelas cidades históricas mineiras, ou da serra gaúcha.
Vou ao supermercado, ao boliche, ao cinema. Às vezes vou à noite para uma boate, bebo cerveja com alguma garota, dançamos, vamos para um quarto dos fundos.
Vou ao supermercado, ao boliche, ao cinema. Às vezes vou à noite para uma boate, bebo cerveja com alguma garota, dançamos, vamos para um quarto dos fundos.
Tenho
dinheiro no Banco que daria para me manter por dois ou três anos, se parasse de
trabalhar. Não tenho família nem amigos. Meus vizinhos me acenam e sorriem de
longe, nunca entraram na minha casa nem eu na deles.
À noite rego as plantas, faço pequenos consertos. Ou levo uma espreguiçadeira para o gramado do quintal, abro uma cerveja, fico sentindo a brisa, olhando as estrelas, bebendo devagar, sem pensar, sem lembrar, sem imaginar coisa alguma.
À noite rego as plantas, faço pequenos consertos. Ou levo uma espreguiçadeira para o gramado do quintal, abro uma cerveja, fico sentindo a brisa, olhando as estrelas, bebendo devagar, sem pensar, sem lembrar, sem imaginar coisa alguma.
Me vi na mesma situação. Me emocionou muito. Esses lugares em que sonho são sempre surreais, imateriais. São as poucas vezes que meu sono significa descanso.
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