Oliver Sacks, neurologista e escritor, ficou famoso ao ser interpretado por Robin Williams no filme Tempo de Despertar, onde ele faz o médico que trata de um paciente (Robert de Niro) que está há anos em estado vegetativo. O médico inventa uma complicada terapia para trazê-lo de volta à consciência, e consegue. Depois, médico e paciente percebem que o tratamento funciona, mas não por muito tempo, e este se vê condenado a mergulhar de novo nas trevas. Lembra muito a situação do clássico de FC “Flowers for Algernon”, de Daniel Keyes (1959).
Sacks,
de 81 anos, publicou recentemente no New York Times uma carta anunciando que
está com câncer de fígado, em fase terminal, e tem apenas algumas semanas de
vida. (Aqui, a carta, traduzida: http://tinyurl.com/k9xvcex).
Os leitores brasileiros hão de lembrar livros como O Homem que Confundiu sua
Mulher com um Chapéu, Um Antropólogo em Marte e muitos outros em que ele
descreve casos clínicos recolhidos de sua longa carreira médica. Sacks dedicou
sua vida ao estudo do cérebro humano e da mente humana, e ler um dos seus
livros abre os nossos olhos para a fragilidade de conceitos como consciência,
percepção, personalidade, etc.
Diz
ele, em sua carta: “É só minha a
decisão de como viver os meses que me restam. Tenho que viver da forma mais
rica, profunda e produtiva que conseguir. (...) Repentinamente me sinto
possuidor de um foco muito claro, e de perspectiva. Não há mais tempo para nada
que não seja essencial. Preciso focar em mim mesmo, no meu trabalho e nos meus
amigos. Não vou mais assistir o jornal na TV todas as noites. Não vou mais
prestar atenção para política ou para argumentos sobre aquecimento global. Não
se trata de indiferença, mas de desapego – ainda me importo muito com o Oriente
Médio, com o aquecimento global, com o crescimento da desigualdade, mas estas
coisas não estão mais na minha alçada; pertencem ao futuro.”
Diante de situações assim a gente percebe que o
mundo se divide em O Mundo e o Meu Mundo. Há uma área imensa do mundo que
ignora a nossa existência, que vai ficar para sempre invulnerável às nossas
ações. Como se fosse outro planeta, e não o planeta onde vivemos. Mas há outro,
o Meu Mundo, onde a nossa vida conta, nossas ações produzem resultados, nossa
presença chama a atenção, nossa ausência deixará um vazio. Quando somos jovens
cheios de sonhos, de atrevimento, de esperança, achamos que um dia o Meu Mundo
se confundirá totalmente com o outro. Quando estamos na porta, nos preparando
para ir embora, é hora de esquecer o que está fora do nosso alcance, e de
reconhecer que o Meu Mundo é pequeno, mas é tudo que a gente tem.
Maravilhosas reflexões. Obrigada.
ResponderExcluirÉ incrível como a expectativa da morte muda inteiramente nossa leitura do tempo.
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