segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

3745) Oliver Sacks (24.2.2015)



Oliver Sacks, neurologista e escritor, ficou famoso ao ser interpretado por Robin Williams no filme Tempo de Despertar, onde ele faz o médico que trata de um paciente (Robert de Niro) que está há anos em estado vegetativo.  O médico inventa uma complicada terapia para trazê-lo de volta à consciência, e consegue.  Depois, médico e paciente percebem que o tratamento funciona, mas não por muito tempo, e este se vê condenado a mergulhar de novo nas trevas. Lembra muito a situação do clássico de FC “Flowers for Algernon”, de Daniel Keyes (1959).

Sacks, de 81 anos, publicou recentemente no New York Times uma carta anunciando que está com câncer de fígado, em fase terminal, e tem apenas algumas semanas de vida. (Aqui, a carta, traduzida: http://tinyurl.com/k9xvcex). Os leitores brasileiros hão de lembrar livros como O Homem que Confundiu sua Mulher com um Chapéu, Um Antropólogo em Marte e muitos outros em que ele descreve casos clínicos recolhidos de sua longa carreira médica. Sacks dedicou sua vida ao estudo do cérebro humano e da mente humana, e ler um dos seus livros abre os nossos olhos para a fragilidade de conceitos como consciência, percepção, personalidade, etc. 

Diz ele, em sua carta: “É só minha a decisão de como viver os meses que me restam. Tenho que viver da forma mais rica, profunda e produtiva que conseguir. (...) Repentinamente me sinto possuidor de um foco muito claro, e de perspectiva. Não há mais tempo para nada que não seja essencial. Preciso focar em mim mesmo, no meu trabalho e nos meus amigos. Não vou mais assistir o jornal na TV todas as noites. Não vou mais prestar atenção para política ou para argumentos sobre aquecimento global. Não se trata de indiferença, mas de desapego – ainda me importo muito com o Oriente Médio, com o aquecimento global, com o crescimento da desigualdade, mas estas coisas não estão mais na minha alçada; pertencem ao futuro.”

Diante de situações assim a gente percebe que o mundo se divide em O Mundo e o Meu Mundo. Há uma área imensa do mundo que ignora a nossa existência, que vai ficar para sempre invulnerável às nossas ações. Como se fosse outro planeta, e não o planeta onde vivemos. Mas há outro, o Meu Mundo, onde a nossa vida conta, nossas ações produzem resultados, nossa presença chama a atenção, nossa ausência deixará um vazio. Quando somos jovens cheios de sonhos, de atrevimento, de esperança, achamos que um dia o Meu Mundo se confundirá totalmente com o outro. Quando estamos na porta, nos preparando para ir embora, é hora de esquecer o que está fora do nosso alcance, e de reconhecer que o Meu Mundo é pequeno, mas é tudo que a gente tem.




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