“Benjamin Black” é o pseudônimo adotado por John Banville para assinar uma série de romances policiais iniciada em 2006 com Christine Falls, e que nestes oito anos já produziu sete romances. Fiquei prestando atenção em Banville quando vi uma palestra dele na Flip 2013 e Sérgio Flaksman (que já o traduziu) me disse que ele estava escrevendo um romance com Philip Marlowe, autorizado pelos herdeiros de Raymond Chandler. Banville já ganhou um caminhão de prêmios literários, inclusive o Booker Prize, o mais importante da Grã-Bretanha. Já comentei aqui o outro livro dele que li, o ótimo The Book of Evidence: http://tinyurl.com/pmepokg.
Christine
Falls (2006) é o primeiro dos romances centrados em Quirke, um patologista de
Dublin que depois de anos dissecando cadáveres começa a querer saber o que os
trouxe ali. É uma Dublin dos anos 1950, chuvosa, depressiva, cheia de gente
religiosa e inflexível. Já ia dizer que parece um “filme noir”, mas não são os
altos contrastes entre preto e branco que dão o clima ao livro. Seria um “filme
gray”, porque tudo é cinzento: a chuva, os prédios, os sobretudos, a moral das
famílias tradicionais em cuja medula acontecem crimes inomináveis. Investigando
a morte casual de uma moça, Quirke começa a descobrir uma rede de tráfico de
bebês sob a proteção de organizações religiosas.
Banville
tem uma prosa rica, concentrada, extrato literário puro para se tomar em gotas;
Benjamin Black tem o mesmo extrato diluído numa prosa narrativa mais
convencional. Banville já declarou que
se sente mais realizado com seus “thrillers” sob pseudônimo do que com os
livros “sérios”, pois estes são obras de arte frustradas (como toda obra de
arte), e os romances policiais acabam chegando mais perto do que queriam. Christine Falls é um livro cruel, uma
dessas histórias onde no fim todo mundo saiu perdendo alguma coisa.
Palmas pro seu dom de arrebatar leitores, Braulio. Mas reservo meu maior clap, clap, clap! pra quando vc resenhar um livro do Andrea Camilleri e seu Comissário Montalbano (segue campanha por email). Abração, baita ano pra todos nós.
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