quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

3701) O traidor Snowden (3.1.2015)



O criador do Netscape, Marc Andreesen, diz, curto e grosso: “Se você procurar a palavra ‘traidor’ numa enciclopédia, vai achar uma foto de Edward Snowden”.  

Diz Bill Gates: “Ele violou a lei, então eu certamente não o considero um herói. Ele não tem muita admiração de minha parte.”  

A CIA (onde ele trabalhava) e o FBI ganharão a megassena no dia em que botarem as mãos nele.  Edward Snowden é mais um norte-americano (como Daniel Ellsberg, que divulgou os “papéis do Pentágono” durante a Guerra do Vietnam) que aceitaram se tornar um Judas diante de todo o seu país, por motivos de consciência.

Snowden trabalhava em tecnologia da informação para a CIA e depois para a National Security Agency, e percebeu os desmandos que essas entidades praticavam contra o cidadão comum, violando emails e telefonemas, espionando pessoas sem autorização judicial, colocando filtros de investigação em canais públicos e privados onde não tinham o direito de fazê-lo. 

Ele era funcionário de alto escalão, com acesso a senhas e códigos.  Um belo dia, encheu o bolso de pendraives com documentos secretos a que teve acesso (cerca de 1 milhão e 700 mil) e fugiu para Hong Kong.  O material que ele copiou está hoje nas mãos de três grupos de jornalistas.

Refugiou-se na Rússia, enquanto os EUA torciam para que ele entrasse num avião que pudesse ser forçado a aterrissar num país aliado.  Uma situação surrealista: um norte-americano que defende a liberdade de informação fugindo do governo de Barack Obama e se refugiando sob o governo de Vladimir Putin.  (Nada no mundo é tão preto-ou-branco quanto nossa preguiça mental gostaria que fosse.)

Na revista Wired de setembro (http://tinyurl.com/q2gqxzz) Snowden diz como é viver num ambiente onde quem tem o Poder faz o que bem entende: 

“É como a história da rã na água fervendo. Você é exposto a um pouquinho de maldade, um pouquinho de violação das regras, um pouquinho de desonestidade, um pouquinho de trapaça, um pouquinho de desserviço ao interesse público, e vai aprendendo a deixar pra lá, e acaba justificando aquilo tudo.”  

Antes que a água começasse a ferver pra valer, Snowden pulou fora.

Jorge Luís Borges, no conto “Três versões de Judas”, propõe uma tese herética: a de que o Filho de Deus que veio salvar o mundo não foi Jesus Cristo. Ser chicoteado e crucificado, diz ele, era um preço irrisório a pagar pela glória de ser endeusado por todos os milênios vindouros.  

Foi Judas quem aceitou praticar a pior das vilanias: a traição a um amigo. E sofrer o castigo que nunca se apaga: o da infâmia.  Cada vez que execramos Judas, aumentamos o preço que ele (o verdadeiro filho de Deus) pagou para nos salvar.











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