Todo mundo
conhece o enigma que a Esfinge da mitologia grega propunha aos viajantes: “Qual
o animal que de manhã caminha com quatro patas, ao meio-dia com duas, e com
três quando anoitece?”. Somente Édipo
resolveu a charada, dizendo: “É o homem, que engatinha quando criança, ou seja,
no amanhecer da vida, depois anda com duas pernas quando adulto, e quando velho
se apóia num bastão”.
Os comentaristas
dos textos clássicos observaram vários aspectos sutis dessa lenda. Não sei se observaram que a aparência física
da Esfinge (busto de mulher, asas de águia, corpo de leão, cauda de serpente)
induzia os desafiantes a imaginar um “animal” igualmente extraordinário e
híbrido, quando na verdade a resposta era bem simples – o animal era ele
próprio, o Homem. Isto pode servir de
metáfora à literatura fantástica, que nos propõe enigmas bizarros que, bem
examinados, têm sempre como resposta o Homem, o ser humano que escreve, publica
e lê essas histórias. Somos nós,
humilde e gloriosamente, o princípio e o fim de toda literatura.
Um segundo
aspecto é que o enigma é apresentado no contexto da história de Édipo, que é
inteligente o bastante para decifrar a charada da Esfinge mas não a sua própria
história. Édipo (que, sem o saber,
matou o pai e casou com a própria mãe) se vê diante de um problema (o
misterioso indivíduo cujos pecados causaram a peste que assola Tebas) e quando
finalmente resolve encará-lo descobre que a resposta é ele mesmo. O homem é ele, ele é o homem que provocou
aquilo tudo.
Uau, caro Braulio, faça disso um prólogo e escreva o seu clássico de ficção científica!
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