Ser antologista é viver a Escolha de Sofia de ter em mãos
três ou quatro contos parecidos, de autores igualmente importantes e/ou
simpáticos (às vezes amigos pessoais do antologista), e saber que só vai caber
um no livro, porque se incluísse todos o fato de terem tantos elementos em
comum iria apenas empobrecê-los mutuamente aos olhos do leitor.
Ser antologista é planejar um volume gigantesco de 700
páginas, trabalhar nele durante um ano, e depois ver que os problemas
burocráticos, financeiros e jurídicos reduziram essa “antologia definitiva do
gênero” a umas meras 210 páginas e olhe lá.
Ser antologista é, depois do livro lançado e elogiado, descobrir
por acaso um conto que se descoberto antes teria virado a cereja-do-bolo, mas
agora é tarde, o bolo já foi ao forno e de lá à mesa.
Ser antologista é ter a obscura honra de ter sido o
responsável pela primeira publicação no Brasil de um cara que será grande no
futuro, e achar que isso é uma pequena glória que compensa algum pequeno
fracasso.
Ser antologista é conceber uma antologia temática em torno
de quatro contos “essenciais”, passar meses escolhendo as dez ou doze histórias
“acessórias”, e terminar fazendo o livro somente com as acessórias, porque uma
das essenciais o autor não pôde liberar, outra a tradução ficou horrível e não
dava tempo refazer tudo, outra os herdeiros estavam em conflito e não liberaram
e outra, relida agora 40 anos depois da primeira leitura, revelou-se não tão
essencial assim.
Ser antologista é escolher e republicar uma história escrita
há mais de um século, e descobrir que esta é a primeira vez em que ela foi
incluída numa antologia.
Ser antologista é passar meses à procura de uma história que
use uma abordagem qualquer do tema, não encontrá-la, e depois de jogar-a-toalha
nessa busca achar uma história perfeita, de um desconhecido, lida por acaso
numa revista quando você pernoitou na casa de amigos e aquela revista era a
única coisa pra ler antes de dormir.
Ser antologista é ter a sua mente e sua visão do mundo
modificadas aos 10 anos de idade, pela leitura de um conto, e aos 50 anos
incluir esse conto numa antologia, e ver a cara de espanto do editor, quando
este sugere tirar esse conto porque o livro “já está muito grosso”, e você
responde, com a brusquidão de um menino de 10 anos: “Só passando por cima do
meu cadáver”.
Alguns desses causos são verídicos? por exemplo, o do último parágrafo?
ResponderExcluirO último parágrafo, Carlos, é uma homenagem a Adelpho Monjardim, autor de Vitória (ES), que incluí em "Páginas de Sombra".
ResponderExcluirA diminuição do tamanho da fonte no último parágrafo passou a impressão de ser algo íntimo cochichado ao ouvido do leitor. Só podia ser verdadeiro...
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