Nem sempre o melhor candidato é o melhor executivo. Acho graça no modo como a democracia eletrônica, onde o objetivo é impor uma idéia a dezenas de milhões de pessoas desinformadas, deforma todo esse processo. Deveríamos eleger o melhor administrador, o mais competente, o mais correto, o mais íntegro, o mais líder. Ao invés disso, elegemos em geral o que tem sorriso mais aconchegante, o que tem rasgos oratórios que fazem explodir aplausos, os que pelas feições ou pelo traje se parecem com algum vago ideal de autoridade que trazemos adormecido em nossa subconsciência de classe. Votamos num ator. Mesmo os bons administradores (que felizmente existem) descobriram muito cedo que para poder administrar em paz tinham que desenvolver, mesmo a contragosto, esse lado televisivo, histriônico, fotogênico.
Esse jogo foi zerado por Ronald Reagan. Deve haver precedentes, mas eu diria que
Reagan foi o primeiro caso de robô biológico na história da política
moderna. Um robô biológico é um ser
humano incapaz de pensar por conta própria mas dotado de uma sólida capacidade
de dizer e fazer o que lhe dizem para ser dito e feito. Reagan tornou-se assim, para o neo-liberalismo
republicano, o candidato perfeito e depois o administrador perfeito. Foi treinado durante a campanha, e depois de
eleito continuou recebendo os textos das mãos da mesma equipe. Não sabia a diferença entre o Brasil e a
Bolívia, tinha um “personal astrólogo” para lhe dizer como seria o seu dia, era
um javali de terno, mas recebia os textos e aplicava a eles todo o seu charme
de galã rústico de Hollywood.
A direita norte-americana trouxe mais atores à política:
Schwarzenegger, Clint Eastwood... Livro
um pouco a cara deste último, que é reacionário mas parece ser capaz de pensar
sozinho. Mas o bom Arnold é um exemplo
cristalino de como o mundo do espetáculo, a cada década que passa, é sugado
para o interior da política. Mais fácil
do que transformar um político em ator é transformar um ator em político,
afinal de contas ele vai precisar apenas ler coisas no teleprompter, porque
todas as discussões já lhe chegarão brifadas e dirigidas.
Dilma, em quem votei, contradiz um pouco isso: gagueija e articula as palavras de uma frase de maneira soltas, separadas.h59
ResponderExcluir