terça-feira, 10 de junho de 2014

3521) Meu São João (10.6.2014)



Meu São João espiritual começou na quarta-feira dia 4, no XIII Forum de Forró em Aracaju.  Três dias de palestras, debates e shows, tendo como homenageados este ano Antonio Barros & Cecéu (PB), Zé Calixto (PB), Edgard do Acordeon (SE) e Rogério (SE).  O Forum se realiza todos os anos na capital de Sergipe, e foi lá, em edições anteriores, que tive a alegria de bater longos papos com Almira Castilho (ex-parceira de Jackson do Pandeiro), Carmélia Alves (a Rainha do Baião), Dominguinhos, Onildo Almeida, D. Iolanda (viúva de Zé Dantas), o pesquisador cearense Nirez, o compositor João Silva e muitas outras pessoas ligadas ao mundo da música nordestina.

O São João para nós, nordestinos, é uma espécie de Copa do Mundo musical que dura um mês inteiro. Uma febre de festas que se estende por trinta dias e que no fim nos larga numa cama, extenuados e felizes.  A festa é a festa e se justifica por si só; mas a vida não é somente a festa. É trabalho também, e não devemos esquecer que quando estamos bebendo e dançando, bem satisfeitos, aqueles músicos em cima do palco estão trabalhando.  Estão se divertindo, também, mas sobrevivem daquilo (ao contrário de nós) e é do interesse deles todos que, assentada a poeira da festa, tenha havido algum tipo de proveito profissional para isso tudo. 

Vai daí que o Forum do Forró é um espaço onde se discutem as questões artísticas e profissionais do forró. O que é o forró?  Quais os estilos musicais que ele inclui?  Quem são os grandes criadores, e que tipo de parâmetros eles deixaram para nós?  O forró pertence ao ano inteiro ou só ao São João?  O forró de hoje ainda é rural ou já é todo urbano?  Como conviver com as “bandas de forró eletrônico” que arrancam cachês milionários das prefeituras do interior?  O que fazer com instrumentistas geniais que não arrastam multidões gigantescas mas são os responsáveis pela manutenção da tradição e pelo alto nível técnico do gênero?

O forró pé-de-serra é como a Lua: míngua, míngua, e quando parece que vai desaparecer começa a crescer de novo.  Já aconteceu antes e vai continuar acontecendo: e mais, a mesma coisa aconteceu e acontece com o cordel, a cantoria de viola, o samba de raiz e tantas outras formas de arte espontâneas e populares que precisam concorrer com formas industriais e planejadas. O São João está começando; que seja um momento de festa e também um momento de reflexão sobre os rumos da festa. Porque a festa é do povo, que fica, e não dos poderes, que passam.  Somos nós, os artistas, cantores, compositores, que devemos tomar a frente para manter vivo esse tipo de música. O resto passará, como já passou.


Um comentário:

  1. Procurei nos seus textos material sobre Zito Borborema, mas não encontrei.

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