domingo, 8 de junho de 2014

3520) A Defenestração (8.6.2014)



Defenestramos o vereador Romualdo Bimbim, notório apostador de brigas-de-galo, administrador de uma camuflada rede de cambistas de ingressos de futebol e de shows de axé, devorador de picanhas gratuitas no restaurante Panela Cheia, cujo dono chantageava mercê de uma obscura transação de alvarás falsificados, comedor de menininhas selecionadas a dedo nas favelas por duas ou três assistentes sociais cuja mão ele molhava com perfumes de contrabando, notório incomodador da vizinhança em dias de jogos do Real Madrid cujos gols eram celebrados com foguetório e balbúrdia.

Defenestramos o dr. Aristarco Pompeu, rábula de porta de delegacia, rabiscador de habeas-corpus de emergência para playboys que reagem com bafafá à menor ameaça de bafômetro, assacador de consumidores inadimplentes, meeiro de indenizações fraudulentas despachadas na calada da noite mediante segredo de justiça e propinas pontuais, calígrafo-forjador emérito de chancelas e rubricas, viciado compulsivo em café, cigarros, baralho e rivotril.

Defenestramos a Dra. Vanessa Kamylla, socialite militante, perua por questão de foro íntimo, professora doutora em alguma coisa que ela nem lembra mais, futura herdeira de terrenos devolutos que abrigam parte da cracolância local, patronesse de feiras, quermesses, leilões, bazares e festivais de caridade, enóloga intuitiva com má memória para nomes e datas, aliciadora de conluios políticos à sorrelfa, colecionadora de cartões de crédito, habituê de shoppings de Miami e de cruzeiros no Caribe, esposa acarinhante e langorosa do septuagenário Dr. Cordeiro.

Defenestramos Deda Cambão, empresário no ramo de import-and-export, colecionador de Rolexes e de iPhones, candidato à perda da barriga mediante jet-ski e piscina térmica, membro do conselho de onze sociedades patronais, cognominado Narina de Titânio pelos colegas do clube Quintas Sem Lei, embolsador-sênior de comissões, percentagens e por-foras, campeão inconteste de cavalo-de-pau na madruga em pleno retão.

Defenestramos Mariinha Itajari, matriarca encanecida de edis e de sicários, de burgomestres e de atravessadores, de sinhazinhas maquiavélicas e de implacáveis viragos, três-parcas-numa-só bordando o bilro dourado e sangrento da fortuna da família, anotadora das datas de morte na mesma Bíblia e com a mesma letra onde anotara a do nascimento, esfinge em si mesma protegida por carranca e silêncio, octogenária de artérias frias, medusa bórgia, palavra final nas sentenças sem volta, gárgula de carne e osso contempladora da cidade indefesa através da mesma janela por onde a defenestramos, e por onde, vigor havendo, defenestraremos todos.


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