Lamentei a morte recente do artista H. R. Giger, um sujeito de técnica brilhante e imaginação incômoda. Ele é famoso pela criação do “Alien” da série do cinema, por muitas capas e ilustrações no gênero do horror e da ficção científica, além de uma participação no fracassado projeto de Duna dirigido por Jodorowski, que não deu certo mas ajudou a projetar vários artistas, Giger inclusive.
Giger era chamado às vezes de surrealista, mas não acho que
fosse mais do que a maioria dos ilustradores e artistas do fantástico. As justaposições inesperadas, os seres
híbridos, as deformações, são elementos que hoje em dia estão presentes nos
mais diferentes estilos. Salvador Dalí
tinha uma obsessão pelo chifre do rinoceronte, que aparece como uma forma
recorrente em inúmeros quadros dele; Giger tinha fixação semelhante em crânios
alongados, como o do Alien.
As hibridizações entre o mecânico e o orgânico são lugar
comum na ilustração de FC/horror. Giger fazia as dele com uma variação maior de
monstruosidades aparentes. Seu olhar
era o olhar de um cientista louco, e ele até parecia bastante com o Rothwang de
Metrópolis (1926), com aqueles cabelos brancos e as olheiras de gênio insone.
Seu mundo era um mundo assustador onde tudo era monstruoso mas ao mesmo tempo
tudo era atraente. Um mundo tecno-pagão, povoado por depravações biológicas e
ciência gótica.
Giger pode ser encampado pelo cyberpunk, pelo steampunk,
pelo biotech, por qualquer ramificação que possa envolver o mecânico, o
monstruoso, o atraente e o carnal. Não
é um artista fácil para os que se incomodam um pouco com a visão de coisas
fisicamente monstruosas, mas a cada geração o público se mostra mais receptivo
a essas imagens. Nada sei sobre a
pessoa dele, mas sempre me pareceu um atormentado, tal como Lovecraft ou
Cronenberg.
O filme japonês tsetuo é puro Giger.
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