Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quinta-feira, 8 de maio de 2014
3493) Contracapa de WhatsApp (8.5.2014)
(ilustração: Ron Miller)
& no discurso político, a veemência é um mero ensaio para a violência
& o mais democrático do carnaval é o direito de sair à rua sem usar nenhuma fantasia
& o tempo que me resta é curto demais para que eu o desperdice lendo o que não me agrada, não me tumultua, não me ilumina
& um poema é a rachadura na vidraça por onde o sol surpreende com um arco-íris
& não adianta exigir honestidade aos desonestos, é como exigir vegetarianismo aos felinos
& toda letra de bolero se torna possível depois das duas da manhã
& ser fã é considerar a si próprio um mero efeito colateral de algo mais importante
& a política é a arte da esperança obrigatória, da amnésia por conveniência, do regateio infinito
& você sabe que está ficando importante quando todo mundo começa a lhe prestar favores sem você nem pedir
& aquela sensação de pequeno lorde inglês estudando entre atiradores de bumerangue lá num outback da vida
& confiar, mas verificando; desconfiar, mas discretamente
& dá pena pensar em todas as gírias brilhantes que se evaporaram sem chegar ao papel
& basta uma coisa dentro de uma mochila para varrer Manhattan do mapa
& a memória é uma ponte elástica ligando o passado ao futuro
& até hoje nenhum cientista conseguiu provar por a+b que é possível provar alguma coisa por a+b
& a gente se esforça tanto e no fim vira apenas o rei da gafe, o campeão do mico, o especialista em meter os pés pelas mãos
& criança de rico é bonsai, criança de pobre é erva daninha
& toda comida tem algo de veneno
& o sujeito está com o saldo bancário no vermelho e ainda passa uma tarde preocupado com a Conjetura de Riemann sobre os números primos
& inventou um vibrador que diz “quer casar comigo?” e ficou rico
& certos jogos de futebol deixam a alma da gente mais massacrada do que a grama onde aconteceram
& mandar é como obedecer: depois que o cara acostuma aquilo vai por si só
& um apartamento flutuando sobre o abismo até que alguém abre a porta
& ser imortal é estar condenado à prisão perpétua sem chance de fuga
& a única vez que tentei conversar com uma árvore ela me disse: vai correr, aproveita que tem perna!
& há duas maneiras de perder uma mulher: tratá-la como um mero animal, e tratá-la como alguém sem animalidade nenhuma
& o poeta é um voyeur clandestino espiando as frestas dentro de si mesmo
& ainda veremos políticos contratando romancistas para escreverem biografias deles onde tudo deu certo
& depois de uma noite de bebida incessante e escrita furiosa, eu apago a luz e me aconchego aos ácaros
& você paga a vida com a vida, e o que o mundo lhe dá é troco &
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