segunda-feira, 31 de março de 2014

3461) A palavra websaite (1.4.2014)



Na escola somos tantas vezes punidos por erros de ortografia que, das duas uma: ou o sujeito manda tudo pro inferno e continua a escrever “concerteza”, ou vira um Inquisidor espanhol, de fogueira em punho, pronto para imolar o primeiro que der uma escorregada.  Eu, por mim, acho que o pior erro de escrita é o que muda o sentido do que se estava querendo dizer, o que prejudica a comunicação. Não sendo assim, é um pecado menor, como mau hálito ou maus modos à mesa. Feio pra danado, mas fácil de corrigir.

Leitores vêm às vezes me corrigir o modo como escrevo certas palavras.  As mais notórias são “saite” e “websaite”.  Sempre tem um bom samaritano para me explicar que são termos em inglês, e que se escrevem “site, website”.  Beleza.  Acontece que uma das dinâmicas apropriativas da língua portuguesa é justamente esquecer como as palavras são escritas na língua de origem, e escrever o modo como nós as pronunciamos aqui. Funcionou assim com futebol, abajur, mídia (cujos originais são “foot-ball”, “abat-jour”, “media”) e mil outros.  Bato de novo numa das minhas teclas preferidas: a linguagem é primeiro falada e escutada, só depois é escrita e lida. Nosso caminho intuitivo para formação de palavras é o som, não as letras com que aludimos a ele.

A grafia inglesa “site” nos sugere instintivamente a pronúncia “síte”. Já com “saite” não tem dúvida nenhuma. Já se cogitou (e ainda se pratica) a substituição por “sítio” (“vi isso num sítio na Internet”), mas aos meus ouvidos isso não encaixa 100%. Sítio me parece uma palavra muito contaminada por outros usos. Saite é uma palavra nova para um conceito novo.

Já me brandiram triunfantes um argumento: “Então, por que escrever websaite, e não uebsaite?”.  Explico.  Esse dáblio inicial não tem perigo de ser confundido com o som de “vê”, até pela quantidade de Williams, Washingtons, etc. à nossa volta.  Nunca vi nenhum novato dizer “vebsaite”. Conserva-se a pronúncia, e neste caso conserva-se a grafia. Uma solução salomônica, que nos ajuda a identificar com presteza todo esse campo temático (“webmaster, web design”, etc.) através da letra escrita, sem prejuízo do som pronunciado.

Não espero que a língua portuguesa vá consagrar essa grafia só em atenção a minha modesta pessoa. Mas a língua é assim. As novas formas são propostas por qualquer um, como eu e você. Nunca saberemos a mecânica que faz umas dessas formas “pegarem” e outras não. (Corrigindo: não temos, por enquanto, meios confiáveis de averiguar por que motivo umas pegam e outras não.)  Cabe a cada um que propõe uma forma saber pelo menos explicar por que a está propondo. O resto é com o tempo e o vento.


3 comentários:

  1. É Braulio. Eu peço para os meus alunos fazerem uma atividade de inglês, ai depois falo que t~em de dizer como ou por que fizeram daquele jeito. Ai os cenhos franzem!

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  2. Pesar de eventual confusão oral com SAI-TE (de resto dirimível no contexto), assimilo tranquilamente e até gosto do "SAITE",caro Braulio. A questão reside no bom-senso, uso e eficiência dessas versões aportuguesadas. Por exemplo suposto: DAITE/DIET. No mais, o que voga é a adesão significativa da comunidade falante.
    Abraço, Joseh Antonio Assunção, Parahyba, 01.04.14

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  3. Do feicibuque ao teu blogue num clique, para comentar sobre este pôste que merece muitos laiques.

    E quem não gostar que se fuque!

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