O romance de espionagem teve seu “boom” a partir dos anos 1960, auge da Guerra Fria, mas já vem de longe. Se brincar, remonta até a Baronesa de Orczy e suas aventuras do “Pimpinela Escarlate” ajudando nobres a fugirem da guilhotina durante a Revolução Francesa. Muitos escritores ilustres não apenas escreveram romances de espionagem, como também trabalharam como espiões para a Inglaterra – foi o caso de Somerset Maugham na I Guerra Mundial e de Graham Greene na segunda.
É
de Maugham o romance Ashenden – o Agente Secreto (1928), na verdade um
“fix-up” – conjunto de narrativas unificadas mediante um personagem, tema ou
ambientação. (O livro serviu de base
para o filme homônimo de Hitchcock.) O protagonista é um escritor convocado
para ajudar o Serviço Secreto britânico na Europa durante a Guerra. Suas
missões incluem vigiar pessoas, facilitar contatos, mas também ajudar na
execução de um ou outro agente inimigo. Não é uma leitura para os fãs de Ian
Fleming ou de John Le Carré, que turbinaram a dramaticidade do gênero em termos
de suspense, intensa movimentação, enredos intrincados como armações de xadrez.
Maugham se baseou em suas experiências, e o livro tem aquele teor meio vago e
inconcluso dos acontecimentos da vida real.
Quem
foi grande fã do livro foi Raymond Chandler, para quem (em 1949) o romance de
Maugham estava “muito à frente de qualquer outra história de espionagem já
escrita”, e chegou a pedir ao seu editor inglês uma cópia autografada (e
conseguiu). Disse ele: “É como se houvesse o tempo inteiro algo vago e sinistro
por trás das cortinas. Na maioria dos outros livros, você apenas tem medo do
cara com um revólver.”
Além
do jogo político-ideológico, sempre tenso e interessante, o romance de
espionagem, melhor do que qualquer outro, explora essa sensação imprecisa de
perigos invisíveis, intenções duplas ou triplas por trás de cada ação, dúvida
constante sobre cada personagem. Em Ashenden, a espionagem é o reino do
mistério constante, onde o agente segue as instruções sem saber ao certo para
que servem, ou o quê, precisamente, está em jogo.
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