(Shane Smith)
A cada dia que passa eu acho a Rússia o país mais bizarro e
mais interessante do mundo. Eu não moraria lá nem com uma bolsa milionária, mas
o laboratório de situações terminais em que se tornou o antigo Império dos
Czares e antiga União Soviética é um espetáculo fascinante para quem curte “o
estranho, o bizarro, o inesperado”.
Vi o documentário Cinema Paralelo (http://bit.ly/PlUJ3I), com cerca de meia hora,
sobre o cinema “underground” que floresceu no país nos anos finais da URSS,
botou a cara pra fora meio timidamente nos anos Gorbachev, e agora sob a
ditadura de Putin está retornando aos subterrâneos onde nasceu e se criou.
O Cinema Paralelo era um tipo de cinema propositalmente
malfeito, “trash”, amalucado, surrealista, indecente, grosseiro. A certa altura
do documentário de Shane Smith e Eddy Moretti, um entrevistado diz: “A Rússia
tem uma arte ‘underground’ extraordinária, e uma arte oficial terrível.” Boris Yukhananov, os irmãos Igor e Gleb
Aleinikov (o primeiro, já falecido; o segundo, hoje diretor da segunda maior
estação de TV do país) fizeram filmes chocantes, anárquicos, que Shane define
assim: “Gente maluca fazendo filmes malucos baseados em teorias intelectuais
ultra-radicais”.
Oleg Kulik é um artista performático que fez parte desse
movimento (ele viajou pela Europa interpretando o papel de um cachorro: nu,
puxado pela coleira por um assistente). Agora, fundou uma religião, da qual é o
Messias: a Religião do Nada. Quem continua na ativa é Yvgeni Yufit, criador do
“Necro-Realismo”. No período comunista, não era permitido mostrar a morte,
mostrar bundas, mostrar infelicidade. Assim, Yvgeni decidiu colocar todas essas
coisas nos seus filmes. Teve filmagens interrompidas, filmes apreendidos, mas
de um modo geral ele e seus colegas eram considerados apenas idiotas e
malucos.