Todo autor tem problema com editoras, mas esses problemas
são de natureza variadíssima, tipo “cada caso é um caso”, e não se resumem ao
cansadíssimo clichê do editor gordo, de cartola, fumando charuto e surrupiando
os direitos autorais do autor que escreve à luz de velas num sótão gotejante.
Não é assim. Os problemas são muito outros.
Contarei dois problemas que tive com a Editora Rocco, à qual
aliás sou muito grato por ter publicado três livros meus: A Máquina Voadora (1994), A Espinha Dorsal da Memória / Mundo Fantasmo (1996) e O Anjo
Exterminador (2002). Quando penso
nessa editora, mais do que numa empresa penso no papo amigo e inteligente de
Vivian Wyler, Ana Duarte, Bebeth Lissovsky, e do falecido e admirável José
Laurênio de Melo.
Mas vejam como o mecanismo de uma editora grande pode se
tornar uma coisa desajeitada, paquidérmica, kafkeana.
Anos atrás eu precisei de exemplares da Espinha... É
praxe contratual que o autor possa adquirir seus próprios livros com um
desconto no preço de capa. Digamos que eu precisasse pagar apenas 40% disso;
num livro com preço de capa de 40 reais, eu pagaria apenas 16 reais por cada
um. Liguei para o depto. comercial da editora, encomendei uns dez ou vinte
exemplares, paguei os 16 (ou equivalente). Dias depois, achei numa Siciliano o
mesmo livro, com preço de capa de 9,90. Por que o Depto. Comercial não me disse
que estava liquidando o livro? Como autor, tenho o direito de saber. Se a
Siciliano estava vendendo a R$ 9,90 deve ter comprado por um décimo disto. Mas
a editora não me disse nada. Só para que eu pagasse os 16,00 reais por
exemplar, bancando o otário? Não é possível.
Esta semana, recebi a prestação de contas de O Anjo
Exterminador, meu livro sobre Luís Buñuel, e vi que os 450 últimos exemplares
do livro foram vendidos a alguém por R$ 1,75 (um real e 75 centavos) cada um.
Mais uma vez a editora foi burra. Se tivessem me ligado e pedido uma oferta, eu
sou tão ingênuo que teria pago talvez 5 reais por cada livro, pensando em
vender por dez.
Bráulio, nosso mercado de livros é somente comércio para as editoras e livrarias. Até porque não se chamaria mercado, se não fosse isso. Literatura é literatura para os escritores e para os leitores, para eles, é apenas comércio. Livro é um produto, e se está ocupando espaço indesejadamente, pouco importa o quanto você ralou para criá-lo. Pouco importa você e os leitores. Pouco importamos nós. Excelente artigo, amigo!
ResponderExcluirPros editores pouco importa a sua ralação. O que eles querem é lucro, só isso.
ResponderExcluirBráulio, te vi na feira do livro de Porto Alegre. Muito legal sua palestra.
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