O
que leva as pessoas a fazer revistas de quadrinhos? Não rende dinheiro (pelo
menos não nos primeiros dez anos). Dá um trabalho enorme, é esnobado por alguns
intelectuais, é ignorado pela imprensa... Bastariam estes sintomas para provar
que as HQs são uma forma de arte pela arte, feita por gente que descobriu que
1) sabe fazer aquilo; e 2) gosta de fazer aquilo. E isto são condições
necessárias e suficientes para fazê-lo.
Sanitário (revista HQ de Campina Grande – www.coletivowc.com.br)
está cheia desse entusiasmo nos seus roteiristas e ilustradores. Humor,
imaginação, uma dose do cinismo e da brutalidade que são “o Espírito do Tempo”,
e com os quais temos de conviver, porque os tempos agora são assim. A revista
lançou dois números temáticos: 1) “O Mundo Ainda não Acabou” e 2) “Grandes
Monstros da Humanidade”. Alguns têm mais técnica; outros, têm idéias mais
surpreendentes, mesmo que a técnica ainda seja na base da tentativa.
Em
HQ, a idéia é essencial. A história tem que ter interesse, os personagens não
podem ser apenas ilustrações do texto. Os diálogos têm que ser uma destilação e
concentração do que seria dito, pra não perder tempo. Muitas vezes o cara tem
isso, sabe fazer isso, mas não é um grande desenhista. A solução, ao meu ver, é
transformar suas limitações em qualidades. Ao invés de tentar desenhar com A ou
B, concentrar-se nas virtudes que tem (seja traço, seja enquadramento, seja
textura, seja figurativismo bem resolvido... o que for).
No
universo brasileiro da HQ, da tirinha, do cartum, existem grandes desenhistas,
de técnica refinada: Laerte, Mike Deodato, Mutarelli, Shiko, Rafael Grampá,
Fábio Moon & Gabriel Bá... Cada um desenha de um jeito totalmente diferente
dos outros, mas todos tem o que em música a gente chama “domínio do
instrumento”. Por outro lado, alguns dos melhores quadrinhistas atuais são
pessoas que tecnicamente ninguém chamaria de grandes desenhistas: Bruno Maron,
Alan Sieber, André Dahmer, além de mestres de uma geração anterior, como os
falecidos Henfil e Glauco. Não têm “essas técnicas todas”, mas,
por-cima-de-pau-e-pedra, cada um criou um estilo pessoal.
Poxa, adorei descobrir esse texto! Posso divulgá-lo no blog do Coletivo WC, Bráulio?
ResponderExcluirClaro, Thais... use como achar melhor! abs a todos
ResponderExcluirUma revista dessa eu até leria.O que não leio mais é revista de super-heróis.Que gata essa aí de cima.Acho que o Mário Prata iria concordar comigo.Ele é tão libidinoso quanto eu.
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