Eike
Batista é um personagem épico dos nossos tempos, e não digo isto com ironia, ou
melhor, a ironia evidente da frase tem como vítima os tempos, e não o valoroso cavalheiro-de-indústria.
Há pouco tempo ele era o sétimo homem mais rico do mundo, o mais rico da
América Latina, e agora, pelo andar da carruagem, em 2015 vai estar me pedindo
dinheiro emprestado.
A
trajetória de Eike tem tudo a ver com os nossos tempos, os tempos de riqueza
virtual, sem lastro físico na produção, um ouro feito de tinta, uma fortuna
feita de zeros e cifrões em tal quantidade que hipnotizam avalistas e fiadores
incautos. Já tivemos grandes empreendedores brasileiros, desde o Visconde de
Mauá até Delmiro Gouveia, homens que quebraram a cabeça e deram a vida para
fazer deste país uma grande potência de acordo com os critérios deles. Mas Eike
talvez esteja sendo (sua epopéia está longe de ter se encerrado) o que mais de
perto corresponde a uma faceta essencial do caráter brasileiro, aquela que
sempre sonha com um passo mais largo que as pernas, aquela que sempre conta com
o ovo no cu da galinha, aquela que comemora a vitória futebolística com a bola
ainda rolando e o placar em aberto.
Em
2012 Eike tinha uma fortuna avaliada em 30 bilhões de dólares; quebras e
fracassos sucessivos de suas empresas geraram um efeito dominó que reduziu essa
fortuna a 200 milhões, em julho deste ano. No espaço de menos de um ano e meio,
ele perdeu 99% do que tinha. E isto não significa apenas que ele tinha dinheiro
e agora não tem mais. Grande parte do dinheiro dele tinha dono. Era de outras
pessoas (acionistas, credores, emprestadores, etc.), e sua fortuna mudou de
sinal, o “Deve” engoliu o “Haver” e ameaça engolir, como um black hole cósmico,
o próprio aventureiro.
É muito dinheiro pelo ralo.
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