terça-feira, 22 de outubro de 2013

3323) Eike Batista (22.10.2013)




Eike Batista é um personagem épico dos nossos tempos, e não digo isto com ironia, ou melhor, a ironia evidente da frase tem como vítima os tempos, e não o valoroso cavalheiro-de-indústria. Há pouco tempo ele era o sétimo homem mais rico do mundo, o mais rico da América Latina, e agora, pelo andar da carruagem, em 2015 vai estar me pedindo dinheiro emprestado.

A trajetória de Eike tem tudo a ver com os nossos tempos, os tempos de riqueza virtual, sem lastro físico na produção, um ouro feito de tinta, uma fortuna feita de zeros e cifrões em tal quantidade que hipnotizam avalistas e fiadores incautos. Já tivemos grandes empreendedores brasileiros, desde o Visconde de Mauá até Delmiro Gouveia, homens que quebraram a cabeça e deram a vida para fazer deste país uma grande potência de acordo com os critérios deles. Mas Eike talvez esteja sendo (sua epopéia está longe de ter se encerrado) o que mais de perto corresponde a uma faceta essencial do caráter brasileiro, aquela que sempre sonha com um passo mais largo que as pernas, aquela que sempre conta com o ovo no cu da galinha, aquela que comemora a vitória futebolística com a bola ainda rolando e o placar em aberto.

Em 2012 Eike tinha uma fortuna avaliada em 30 bilhões de dólares; quebras e fracassos sucessivos de suas empresas geraram um efeito dominó que reduziu essa fortuna a 200 milhões, em julho deste ano. No espaço de menos de um ano e meio, ele perdeu 99% do que tinha. E isto não significa apenas que ele tinha dinheiro e agora não tem mais. Grande parte do dinheiro dele tinha dono. Era de outras pessoas (acionistas, credores, emprestadores, etc.), e sua fortuna mudou de sinal, o “Deve” engoliu o “Haver” e ameaça engolir, como um black hole cósmico, o próprio aventureiro.

Eike parece aquele rapaz do conto “A nota de mil dólares”, sobre o qual já escrevi nesta coluna (aqui: http://bit.ly/1cEtmtA). Um rapaz acha na rua uma nota de mil dólares e, crendo-se rico, tem um surto de dinamismo e incendeia (no bom sentido) a economia da cidadezinha onde vive. Depois percebe que a nota era falsa, mas o bem já estava feito: a cidade agora está fervilhante de atividade. É o caso de Eike, coitado. No caso dele, não foi bem uma nota, foi algo como um cheque de mil dólares que ele preencheu, assinou, e foi passando adiante. Milhares de fiéis, entre eles o governador e o prefeito do Rio de Janeiro, ajoelharam-se diante desse talismã e abriram as carteiras. Voilà! – o cheque não tinha fundos. Mas – convenhamos – quando uma catástrofe acontece, que seja grande, que seja épica, que seja uma história para se contar aos netos. Eu já estou começando.


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