quarta-feira, 24 de julho de 2013

3246) Cordwainer Smith (24.7.2013)





Muitos centenários ilustres sendo comemorados este ano (Albert Camus, Vinicius de Moraes, Rubem Braga, para não falar no meu pai, Seu Nilo, e em seu/nosso amigo “Seu” Brasil). Quase deixei escapar o de uma das figuras mais talentosas e insólitas dentro da ficção científica.  Cordwainer Smith era o pseudônimo de Paul Linebarger (1913-1966) para sua obra de FC, da qual apenas uma parte foi publicada em vida.

Seus contos (não li os romances) mostram um futuro remoto em que pilotos de espaçonave ligam-se telepaticamente a gatos para absorver a energia necessária aos saltos no hiperespaço, e tecnologias extraordinárias permitem aos povos do futuro reconstituírem a cultura de uma época remota (a nossa) e viver nessas simulações. Os títulos dos seus contos têm uma poesia única, inconfundível: “Alpha Ralpha Boulevard”, “The Ballad of Lost C’Mell”, “The Dead Lady of Clown Town”, “Golden the Ship Was – Oh, Oh, Oh!”, etc.

Seu pai morou na China e colaborou na revolução republicana que destronou o “Último Imperador” (o do filme de Bertolucci). Ele próprio tornou-se oficial do exército dos EUA e voltou a morar na China, onde trabalhou com o serviço de inteligência. Seu livro Guerra Psicológica (1948) é considerado um clássico do gênero. A edição brasileira (Biblioteca do Exército, 1962) tem esta interessante epígrafe do autor: “O gênero humano seria certamente melhor se todos os homens do mundo fossem um pouco mais brasileiros do que o são hoje”.

É um dos “grandes autores pouco lidos” da FC. Seus contos são humanistas, e têm uma visão ética das situações extremas de um conflito militar ou social. São criações notáveis seu “Underpeople” (animais artificialmente evoluídos à forma humana, versão benigna das criações de Wells em A Ilha do Dr. Moreau), a Instrumentalidade do Homem (uma elite político-científica que governa os mundos), e as diferentes drogas (“santaclara”, “super-condamine”) que ele emprega ora como vício ora como alívio do sofrimento. Certa vez ele levou as filhas pequenas ao México e lhes mostrou as pirâmides de Chichen Itzá, onde havia sacrifícios humanos, e os murais de Siqueiros, para mostrar-lhes a medida da dor humana.

Smith emprega com frequência uma prosa poética como a de lendas orientais ou sagas antigas. Seus contos são vislumbres de um complexo futuro com dezenas de milhares de anos, numa colagem multicultural, onde a presença do Oriente é indireta mas forte. A antologia The Best of Cordwainer Smith (Ballantine, 1975) reúne seus doze melhores contos, uma preciosa introdução de J. J. Pierce, e uma cronologia do seu Universo. Seu websaite é: http://www.cordwainer-smith.com/.


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