(Flip 2013: Pires, Dyer, Sullivan)
Nascer na Paraíba foi uma das melhores coisas que poderiam
ter me acontecido, porque eu sou por natureza um cidadão do mundo. Se nascesse
em Paris ou Nova York, eu me diluiria em generalidades e irrelevâncias, ainda
que lucrativas. Ser paraibano, estar por assim dizer perto da bandeirinha de
corner do Palco do Universo me serviu (como serve a todos nós) de alerta. O alerta
parece dizer: você é o centro do seu mundo mas não é o centro do mundo. O mundo
é maior do que você, e não vai perceber sua existência, a menos que você faça
alguma coisa importante. Te vira, véi.
Isso me vem à mente ao considerar a mesa realizada na Flip,
entre os ensaístas Geoff Dyer (Inglaterra) e John Jeremy Sullivan (EUA),
mediados pelo brasileiro Paulo Roberto Pires. Dyer e Sullivan são dois
ensaístas literários da velha escola, ou seja, escrevem textos longos,
meditativos, críticos, geralmente na primeira pessoa, mas envolvendo, em torno
do objeto principal do texto, uma grande quantidade de referências pessoais,
literárias, culturais, políticas, etc. Um ensaísta da velha escola, ao escrever
sobre um parafuso, coloca por alguns minutos o parafuso no centro do seu mundo
mental, e faz convergir tudo que sabe na direção desse pequeno objeto.
Paulo Roberto Pires observou com propriedade que no Brasil o
termo “ensaio” se aplica muitas vezes ao ensaio acadêmico: duro, árido, cheio
de jargão, manietado por uma estrutura referencial e demonstrativa que deixa
muito pouco terreno para a expressão pessoal. Já o ensaio que estou chamando
aqui de “velha escola” nada impõe em termos de estilo ou de estrutura. O autor
é livre para concebê-lo, e cada um vai na direção de si mesmo. Um inglês como
Dyer talvez derive (não li nada dele ainda) na direção de autores como G. K.
Chesterton, capaz de falar longamente e interessantemente sobre qualquer
assunto; ou na de George Orwell, cujos ensaios são tão agudos e ácidos quanto
sua ficção. Um norte-americano como Sullivan (comprei dele a coletânea Pulphead) pode recorrer à farta inspiração literária de um Edmund Wilson ou à
experiência de Norman Mailer, desde que saiba temperá-las com a doidice de
Hunter Thompson ou Lester Bangs.
Os seus homens e suas ferramentas, e seus movimentos de pinça, e seus objetos úteis com cabeças chatas, martelos e parafusos, quem é esse homens úteis? Espera, o gênio foi quem patenteou o parafuso, Henry Maudslay(outro Henry). No entanto, por que estamos nos apertando com assunto de ferramentas e parafusos, “Freud, explica”?
ResponderExcluirÉ porque a linguagem entre o parafuso e a porca assemelha-se ao sexo e “o sexo é um assunto popular”. Outra coisa(id), os utensílios são úteis, e os inutensílios não. Sabe o que você faz com esse inutensílio, Leminsk, você enfia um parafuso nele, pois não passam de palavras escritas sobre um Chão de Giz.
Assim, as letras soltas se prenderão dentro de um plano cartesiano e girarão em torno de seu próprio eixo, algo entre o w, y e x ou z; t ou Beta. As palavras de giz colhidas como fruto em Ramalho serão “meros devaneios tolos” a lhe torturar; “fotografias recortadas em jornais de folhas”.
Após a lobotomia realizada com o famoso movimento de pinça e ferramentas, você será um parafuso, algo útil entre apenas os eixos Y e X, no máximo o eixo Z, com uma trajetória helicoidal previsível: para o centro e avante!
Mas, quem eu estou querendo enganar? Eu queria mesmo usar ao invés de parafusos, “quem sabe uma camisa de força ou de Vênus”, pois neste mundo “ há tantas violetas velhas sem um colibri”. No mais...
Se o autor e o mundo valerem a pena, o assunto pode ser até um parafuso.
ResponderExcluirOu Exu ;)