(foto: Gavin Hammond)
Gotán City tem 32 roteiros turísticos de trem. Comprei o carnê “Vida de Charles Windstern”.
O trem chia, o vapor silva, a engrenagem rumoreja e se põe em movimento, e eu
tiro da pasta o Guia Informativo.
Desfilam na janela armazéns com vidraças quebradas e manchas verdes de
infiltrações antigas. Outdoors
descascando como pele após a praia.
Homens gordos de macacão, sentados em pilhas de dormentes, com charuto
apagado na boca. A primeira parada do
trem é na Rua 152, a 1 km da estação.
Vemos a placa indicando o lugar onde havia a casa em que
Charles nasceu, em 2011. Em seu lugar
ergue-se hoje uma pet-shop de oito andares, toda de vidro fumê, luzes de
mercúrio, comerciais em loop na fachada de cristal líquido. O altofalante do
trem refere-se a Charles como “o último grande pensador do século”. O trem
arranca.
A próxima parada, na Rua 200, mostra de longe o soturno
Colégio Gospel onde Charles estudou até os 16 anos. Continua intacto; é mantido por subvenções coletadas em oito
países. No tempo de Charles formava 400
alunos por ano, agora forma 55 (o Reitorado afirma que os critérios tornaram-se
mais exigentes). A estátua de Charles no jardim foi removida temporariamente
para conserto na tubulação de esgoto.
Está deitada na horizontal, perto do muro, sua mão erguida se projeta
sobre o laguinho onde bóiam folhas secas.
As paradas seguintes mostram a praça onde Charles foi
alvejado durante uma manifestação sindical; o hospital onde ficou interno
durante os seis anos seguintes, cruciais para sua formação teórica, quando leu
tudo que estava ao seu alcance; o primeiro shopping onde pregou, pela primeira
vez, após a cura e a conversão. Cada vez que o comboio se detém, os
vidros-telas das janelas superpõem imagens históricas e texto escrolado à
paisagem que observamos lá fora.
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