A série Game of Thrones (canal HBO) exprime uma
tendência atual da Fantasia Heróica de língua inglesa, que surgiu como uma
resposta moderna às Novelas de Cavalaria que mostram heróis imaculados e vilões
sórdidos, e a luta metafísica entre um Bem idealizado e um Mal pouco sedutor.
Aos poucos, a Fantasia foi absorvendo o realismo psicológico do Romance Histórico. Um gênero menos moralista e mais pragmático, onde os personagens não têm ideais e sim interesses, e onde tanto um herói quanto um vilão são, no dizer de Olavo Bilac, “capazes de horrores e de ações sublimes”.
Aos poucos, a Fantasia foi absorvendo o realismo psicológico do Romance Histórico. Um gênero menos moralista e mais pragmático, onde os personagens não têm ideais e sim interesses, e onde tanto um herói quanto um vilão são, no dizer de Olavo Bilac, “capazes de horrores e de ações sublimes”.
O paralelismo com a política moderna emerge a cada passo.
Quando Tyrion Lannister examina as contas dos Sete Reinos e descobre o seu
gigantesco endividamento, ele se queixa da imprudência do ex-chefe da Casa da
Moeda, Lord Baelish: “O ouro dos Lannister vem das nossas minas, mas o ouro dos
Reinos é criado por ele simplesmente estalando os dedos”.
Quem escreveu isto sabe que a bolha financeira, muito maior que o planeta Terra, em cuja superfície estamos construindo nossa economia de superconsumo e superdesperdício, foi criada exatamente assim.
Quem escreveu isto sabe que a bolha financeira, muito maior que o planeta Terra, em cuja superfície estamos construindo nossa economia de superconsumo e superdesperdício, foi criada exatamente assim.
Em sua trama para tornar-se rainha, Margaery Tyrell promove
“trabalhos assistenciais” junto aos descamisados de King’s Landing, alimentando
os pobres.
Na cena magnífica em que ela convence seu noivo, o Rei Joffrey (odiado e desprezado por todos) a chegar à sacada, o Rei fica desnorteado ao receber uma gigantesca ovação, e mais ainda ao perceber que a ovação não é para ele, é para ela, que a multidão adora. “Don’t cry for me, King’s Landing”: faz tempo que eu não vejo a história de Evita Perón sintetizada com tanta nitidez.
Na cena magnífica em que ela convence seu noivo, o Rei Joffrey (odiado e desprezado por todos) a chegar à sacada, o Rei fica desnorteado ao receber uma gigantesca ovação, e mais ainda ao perceber que a ovação não é para ele, é para ela, que a multidão adora. “Don’t cry for me, King’s Landing”: faz tempo que eu não vejo a história de Evita Perón sintetizada com tanta nitidez.
É uma história de clãs sertanejos, de famílias em luta pela terra, de alianças e rompimentos, de ódios que se incendeiam ao som de um sobrenome. Uma história de “potentes chefias”, como dizia Guimarães Rosa, e que tem uma ressonância especial a quem leu ou folheou uma obra como o colossal estudo de Linda Lewin, Política e Parentela na Paraíba (Ed. Record, 1993).
Porque nosso belo e sofrido Estado tem sido criado e destruído, sucessivamente, pelas guerras ancestrais, pelas alianças traiçoeiras e os matrimônios turbulentos entre os Lannister, os Stark, os Targaryen, os Greyjoy, os Baratheon, os Tyrell, os Frey, os Tully...
Braulio, antes do Game of Thrones, tivemos o Zelazny, Robert E Howard, Moorcock, o saudoso, falecido a pouco, Jack Vance e tantos outros...
ResponderExcluirClaro. Mas nessa minha coluna do Jornal da Paraíba me dirijo a um público que certamente não conhece esses autores, e talvez conheça a série, que passa na TV a cabo.
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