sexta-feira, 19 de abril de 2013

3164) TV e entrevistas (19.4.2013)





Tem coisas que só a vida ensina, e a primeira delas é a vida propriamente dita. Não temos manual de instruções para a maioria das coisas que nos acontecem. Algo que a gente rala muito para aprender, e nunca aprende, é dar entrevistas para a TV. Políticos, artistas, etc acabam aprendendo pela prática intensa, fazem isso quase todo dia. Mas o que dizer do cidadão comum a quem isso só ocorre, sei lá, uma vez por ano? Quando chega a próxima vez ele nem lembra mais o que fez na anterior.

Posso compartilhar algumas pequenas coisas que aprendi à força de fazer bobagem. Tempos atrás, quando alguém me entrevistava para um programa qualquer, eu começava expondo minhas premissas, em função da pergunta que me fôra feita, para chegar, triunfalmente, à conclusão. Em geral, isto me requeria 3 ou 4 minutos de resposta, o que em termos de televisão é uma eternidade. A consequência é que ainda durante as premissas eu era interrompido pelo repórter, que agradecia minha participação e chamava a central. Ou então fazia outra pergunta – e tudo recomeçava.

A lição que aprendi foi: quando a TV fizer uma pergunta, responda direto com a conclusão. De maneira direta, concisa, e por mais que a conclusão pareça gratuita sem ter sido preparada pelas premissas. Quanto mais inesperada ou surpreendente ela for, melhor, porque o repórter vai ficar intrigado com uma resposta tão curta e direta, e vai perguntar: “Por quê”, ou “Como assim?” – e aí vai lhe dar todo o tempo necessário para você apresentar suas premissas.

Do mesmo jeito, se pedirem para você tocar uma música, ataque direto no primeiro verso. Não invente de tocar a introdução instrumental, se não corre o risco de ver os créditos do programa subirem na tela antes mesmo de você poder cantar “Ouviram do Ipiranga as margens plááácidas...” ou seja lá qual for o verso inicial da sua música.

A TV só tem tempo para pílulas, comprimidos, conclusões bem sintéticas com começo e fim (de preferência sem “meio”). Responder perguntas da TV é uma arte que eu não domino até hoje, e olha que já dei centenas de entrevistas, desde as de 30 segundos até as de um programa inteiro. O raciocínio mais curto de que sou capaz é do tamanho de um destes artigos, o que me inviabiliza para a filosofia eletrônica. Na TV, a gente tem que ir direto à parte principal. Nada de ordem cronológica dos fatos, por exemplo. Craques do futebol brasileiro? Vá direto a Neymar. Se der tempo, lembre Pelé e Garrincha.  Se pedirem mais, aí sim, fique livre para ir de Leônidas e Zizinho até Zico e Ronaldo.

Fale do aqui e agora. TV é como Twitter: depois de um certo ponto, nada do que você disser sobreviverá à edição.



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