domingo, 6 de janeiro de 2013

3076) A base da música (6.1.2013)





A música se compõe de ritmo, melodia e harmonia. Não sei se está assim nos compêndios musicais, mas é assim que está no meu ouvido e no meu entendimento. O ritmo é a sucessão de batidas fortes e fracas (acentuadas e não-acentuadas), a ordem que elas criam e as aparentes desordens que logo se revelam (idealmente) como ordens mais complexas e menos previsíveis, mas que a gente percebe depois de algum tempo. Ritmo é a parte mais básica da música. É algo que pode ser criado batendo com a mão na mesa ou o pé no chão, estalando ou tamborilando com os dedos... É a camada mais primal. Bebês incapazes de acompanhar uma melodia são sensíveis ao ritmo. O ritmo na música popular consiste basicamente na repetição das mesmas sequências de acentos fortes e fracos.

Uma melodia é uma sucessão de notas musicais no tempo, quando elas parecem estar contando uma historinha abstrata de tensões e relaxamentos, ascensões e quedas, avanços e recuos, percursos em linha reta e desvios inesperados. Cada cultura tem seu idioma melódico próprio; basta ouvir um CD de música folclórica chinesa ou indiana. Há pessoas com sensibilidade e imaginação melódica que são capazes de criar melodias mentalmente, cantarolando, sem saber tocar o mais simples instrumento. (Rosil Cavalcanti era assim.) Outros têm, como a gente diz, o “ouvido duro”, tapado, que só às custas de muito esforço consegue perceber as sutilezas melódicas. De um modo geral, não há ouvido tão duro que não possa ser educado até certo ponto. Meu ouvido é duro, e eu o eduquei na marra.

Ritmo e melodia são as coisas que mais chamam a atenção e mais “pegam” no ouvido das pessoas, e é nesses dois aspectos que se baseia a canção popular mais direta, mais simples: marchinha de carnaval, rock, forró, samba, etc.  Já a harmonia é uma conquista conceitual mais complexa – é o efeito estético produzido por duas ou mais notas soando juntas. A harmonia tem também uma “melodia” própria, porque uma sucessão de acordes bem concatenados pode causar um efeito estético equivalente ao de uma sucessão de notas. Dentro de uma sucessão harmônica é possível encaixar inúmeras melodias. Sambistas, bluesmen, etc. são especialistas nisso. É possível pegar a harmonia de “Garota de Ipanema”, acorde por acorde, e compor uma melodia nova que só vai guardar uma distante semelhança com a melodia original. Muitas acusações apressadas de plágio são feitas porque uma canção usa a mesma harmonia de outra já existente, mas cria uma melodia diversa em cima dela, ou seja, usa a mesma base para compor uma nova obra. O ouvinte percebe a semelhança, sem entender inteiramente o porquê, e fala em “plágio”.




Um comentário:

  1. Bráulio,

    Você conhece algum site que "ensine" estes fundamentos musicais? Eu já tentei ler sobre música mas - na maioria das vezes - é muito difícil apreender estas coisa só pelo texto, ainda mais para quem não toca nada (ou tem ouvido duro).

    Não é o caso do seu texto. rs

    Quando meu irmão (que sabe tocar alguns instrumentos) me explicou harmonia, ele o fez explicando que a harmonia da música brasileira é muito rica, pois ela "caminha" em direção ao inesperado, enquanto o trivial da música pop é ser bastante previsível. Aí ele exemplificou comparando Luíza do Jobim e Gypsy Woman da Crystal Waters (Foi covardia, mas ficou bem óbvio para entender)

    Abs

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