(Jean Simmons e Richard Burton, O Manto Sagrado)
Do ponto de vista da dramaturgia do cinema, não existe cena mais
importante do que a morte do personagem principal, desde, é claro, que ela seja
exigida pela história. Mostrar a morte de um personagem importante sempre foi
um motivo para que o fragor da batalha amainassse e se transformasse num mero
marulhar ao fundo, enquanto o moribundo tinha direito a um monólogo final, e a
um comentário rude mas sincero dos companheiros, logo após a cabeça tombar-lhe
para sempre. A morte era o grande
momento, não só do personagem como do ator/atriz.
Como mostrar de outra forma? Quando o casal de cristãos condenados por Calígula às feras se encaminha para os portais que os conduzirão à arena, aparecia
na tela o "The End" que ninguém aceitou (eu, pelo menos, não). O filme era O
Manto Sagrado de Henry Koster (1953), que vi quando teria menos de dez anos, e
aquela foi uma maneira de interessante de mostrar a morte, porque não vendo
meus heróis morrerem eu seria condenado de certa forma a ficar imaginando a
morte deles pelo resto da vida. E de
certo modo o filme se interromper antes daquela cena nos lembrou que com a vida
acontecerá o mesmo. Vai se interromper
simplesmente, sem se completar.
Não sei se é coincidência, mas o filme de Koster se intitula The
Robe; em 1948 Hitchcock tinha feito Rope (“Festim Diabólico”), sobre um
assassinato que era o contrário: acontecia na primeira cena do filme. O filme
começa com dois rapazes enforcando um terceiro, escondendo-o num baú, e
servindo em cima desse baú um jantar para um grupo de amigos: o filme tem a
duração desse jantar. Hitchcock
aperfeiçoou esse recurso ao fazer em 1960 Psicose, que teve como uma das
principais heresias (para a bolsa de valores estéticos da época) o fato de que
a atriz principal, Janet Leigh, morria a cerca de um terço da duração total do
filme.