sexta-feira, 20 de julho de 2012

2928) Política sertaneja (20.7.2012)




“É por isso que Cruz do Cavalcanti é um lugar que nunca irá pra frente.  Não tem como.  Não é porque seja um lugar ruim, ou um lugar de gente que não presta, ou então porque exista (como já foi sugerido em plena Câmara Municipal) que exista uma caveira de burro enterrada embaixo do piso de mármore do Salão Nobre da Prefeitura.  Nada disso.  

"O problema de Cruz (como chamamos nossa querida terrinha) é um problema de ordem matemática. Este artigo é o décimo-quinto que escrevo sobre este tema; como é o primeiro a ser publicado por outro órgão que não o meu blog “Cruz Credo”, tentarei ser o mais objetivo possível.

“Aqui em Cruz, as famílias se resumem a três principais, os Cantídios, os Magela e os Noratos. Há cento e cinquenta anos que no município ninguém solta uma bufa sem autorização de um dos três.  Na primeira vez que eu votei para prefeito, votei no candidato dos Magela, que tinha dado um emprego a meu primo.   Ele ganhou.  

"Quatro anos depois, candidatou-se de novo.  Mas aí os Cantídios e os Noratos apararam arestas entre si, e se mobilizaram por um candidato único, Jurandirzinho.  Ex-supervisor de minha irmã no Controle Ambiental.  Votei nele, e ele ganhou. 

“Vida que segue.  Mas Jurandirzinho (que na verdade era de fora, e entrara nos Noratos por vias conjugais) começou a incomodar muita gente.  Ficou muito espaçoso, muito minha-própria-turma.  Na eleição seguinte, os Cantídios e os Magela começaram a conversar, a conversar, acertaram os ponteiros, e lançaram um candidato, Professor Absalão.  

"Votei nele, claro, mesmo sendo ele um Cantídio de sangue e de tinta, por todos os laços imagináveis.  Tudo que eu sou devo a Professor Absalão.

“Inclusive o emprego que ele me conseguiu em seguida, na Secretaria de Relações Humanas, não é?  Mas o fato do poder municipal estar nas mãos dos Cantídios incomodou, mais do que a qualquer outro, aos Magela.  Era preciso um candidato de consenso, e desta vez  os Magela se aliaram aos Noratos para impedir que o professor se reelegesse.  

"Conseguiram isso com o artifício (bastante hábil, reconheço), de lançar o nome de Dona Zizinha Combé, viúva de um comerciante muito ligado aos Magela, morto num acidente. Até capelinhas já havia em seu nome.  A campanha foi no tom religioso e emotivo.  O que posso dizer?  Votei em D. Zizinha, e ela ganhou.

“Todo dia chego aqui às 11 (em vez de 8:00), brinco no Twitter, leio os jornais, e vou tomar cafezinho na esquina.  Não devo nada aos Magela, tá sabendo?  Eles não me botaram aqui. Não devo nada a ninguém.  E tem mais, político tem mais é que ter medo de mim, porque eu nunca votei num candidato pra ele perder."





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