Enquanto restar um único jornal capaz de
publicar a manchete “O mundo acabou!”, o mundo não terá acabado. Notícias sobre
o fim do mundo são um passatempo a mais dos jornalistas, porque a toda hora, em
algum país, tem um sujeito meio desnorteado interpretando febrilmente sinais
aleatórios e dizendo que o Fim está próximo. Como aconteceu agora em Teresina,
onde o ex-zelador Luís Pereira dos Santos conseguiu reunir um grupo de 100
pessoas firmemente convencidas de que ele dizia a verdade ao profetizar que o
mundo acabaria no dia 12 de outubro. Luís largou o emprego, se desfez dos seus
pertences, atraiu essa multidãozinha de crentes e mandou que todos se
preparassem. O mundo mais uma vez recusou-se a se acabar e Luís acabou preso.
Segundo ele, Deus resolveu fazê-lo passar por uma provação e impediu que o
mundo acabasse, apenas para castigá-lo.
Está tudo aí: a megalomania (tudo que Deus
faz é por causa dele), a visão do final apocalíptico, a quebra das normas
sociais (as pessoas largaram tudo e foram amontoadas em duas casas, as crianças
abandonaram a escola), a busca inconsciente da simetria (“Jesus enviou anjos
aos quatro cantos”) e a regurgitação do visionarismo bíblico, uma das formas
mais poderosas de aliciamento do inconsciente coletivo (“haverá choro e ranger
de dentes”, “noites de trevas”, “a Besta sairá do abismo”). No dia aprazado, o
mundo continuou indiferente a eles (em geral, essas coisas ocorrem a quem é
tratado com indiferença pelo mundo) e a polícia foi lá desfazer a “arca”, com
medo de que houvesse distribuição coletiva de veneno (como ocorreu com a seita
do pastor Jim Jones, na Jamaica).
Perfeito, seu talento para usar as palavras é fantástico
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