domingo, 23 de setembro de 2012

2984) O fim do mundo (23.9.2012)




Peço desculpas pelo tom catastrófico deste título. Dada a importância do assunto, pensei em intitular esta coluna “Mulher pelada!”, para atrair mais leitores, mas o título acima me parece mais honesto em função do conteúdo. Ver e rever o filme Trabalho Interno (Inside Job, 2010), documentário de Charles Ferguson sobre a crise financeira de 2008 (que não acabou ainda – o mundo continua vivo, respirando com a ajuda de aparelhos) me leva a pensar neste episódio emblemático do gangsterismo denominado “capitalismo financeiro”, que arruinou centenas de milhões de famílias pelo mundo afora. O filme ganhou o Oscar de Melhor Documentário, uma atitude corajosa da Academia, ou talvez nem tanto - fico imaginando quantos dos seus membros perderam suas poupanças devido às maracutaias que o filme denuncia e expõe.

Duas coisas aconteceram. De um lado, a omissão dos governos em fiscalizar esse mercado, impor limites, atribuir responsabilidades, investigar os delitos e punir os transgressores. (É para isso que existem os governos, amigos, e isso, por incrível que pareça, não é cerceamento das liberdades individuais. Pelo contrário.) Do outro lado, a emergência de uma casta de executivos, economistas, altos funcionários, advogados e políticos que descobriram uma maneira rápida de fabricar dinheiro imaginário tendo como matéria-prima o dinheiro real dos correntistas e aplicadores.  Esse dinheiro real era multiplicado 100 ou 200 vezes numa ciranda de transações cada vez maiores, pagando dividendos fantásticos. E criando uma situação de extremo risco, porque era um castelo de cartas. No dia em que tombou a primeira, tombaram todas.

Quando os correntistas e aplicadores perguntavam timidamente se aquilo era seguro, todos os consultores diziam que sim, sem dúvida. Mesmo sabendo que não era.  É impressionante a cara-de-pau deles no filme, interrogados nas CPIs, tirando o seu da reta e dizendo que o que tinham passado para os clientes “era apenas uma opinião”, e que os clientes seguiram aquela opinião porque quiseram. Uma super-fraude organizada para enriquecer às custas dos leigos; uma farra que durou quase uma década.

Eu já tinha visto esta história por alto nos telejornais da época, mas é outra coisa ver os principais trambiqueiros (e os principais denunciantes) entrevistados por quem entende do assunto. Não vou transcrever aqui a cadeia de fatos, os números, os episódios. Está tudo no filme (em qualquer locadora, com versão comentada pelo diretor, ou para download aqui, com legendas: http://bit.ly/QseKmX), no websaite do filme (http://www.sonyclassics.com/insidejob/), e por aí afora. Poderia se intitular: ”O Começo do Fim”.

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