Peço desculpas pelo tom catastrófico deste título. Dada a importância
do assunto, pensei em intitular esta coluna “Mulher pelada!”, para atrair mais
leitores, mas o título acima me parece mais honesto em função do conteúdo. Ver
e rever o filme Trabalho Interno (Inside Job, 2010), documentário de Charles
Ferguson sobre a crise financeira de 2008 (que não acabou ainda – o mundo
continua vivo, respirando com a ajuda de aparelhos) me leva a pensar neste
episódio emblemático do gangsterismo denominado “capitalismo financeiro”, que
arruinou centenas de milhões de famílias pelo mundo afora. O filme ganhou o
Oscar de Melhor Documentário, uma atitude corajosa da Academia, ou talvez nem
tanto - fico imaginando quantos dos seus membros perderam suas poupanças devido
às maracutaias que o filme denuncia e expõe.
Duas coisas aconteceram. De um lado, a omissão dos governos
em fiscalizar esse mercado, impor limites, atribuir responsabilidades,
investigar os delitos e punir os transgressores. (É para isso que existem os
governos, amigos, e isso, por incrível que pareça, não é cerceamento das
liberdades individuais. Pelo contrário.) Do outro lado, a emergência de uma
casta de executivos, economistas, altos funcionários, advogados e políticos que
descobriram uma maneira rápida de fabricar dinheiro imaginário tendo como matéria-prima
o dinheiro real dos correntistas e aplicadores.
Esse dinheiro real era multiplicado 100 ou 200 vezes numa ciranda de
transações cada vez maiores, pagando dividendos fantásticos. E criando uma
situação de extremo risco, porque era um castelo de cartas. No dia em que
tombou a primeira, tombaram todas.
Quando os correntistas e aplicadores perguntavam timidamente
se aquilo era seguro, todos os consultores diziam que sim, sem dúvida. Mesmo
sabendo que não era. É impressionante a
cara-de-pau deles no filme, interrogados nas CPIs, tirando o seu da reta e
dizendo que o que tinham passado para os clientes “era apenas uma opinião”, e
que os clientes seguiram aquela opinião porque quiseram. Uma super-fraude
organizada para enriquecer às custas dos leigos; uma farra que durou quase uma
década.
Eu já tinha visto esta história por alto nos
telejornais da época, mas é outra coisa ver os principais trambiqueiros (e os
principais denunciantes) entrevistados por quem entende do assunto. Não vou
transcrever aqui a cadeia de fatos, os números, os episódios. Está tudo no
filme (em qualquer locadora, com versão comentada pelo diretor, ou para
download aqui, com legendas: http://bit.ly/QseKmX),
no websaite do filme (http://www.sonyclassics.com/insidejob/), e
por aí afora. Poderia se intitular: ”O Começo do Fim”.
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