quarta-feira, 29 de agosto de 2012

2962) Gotham City (29.8.2012)





(Metropolis, de Fritz Lang)


A escolha do nome Gotham City para batizar a cidade onde atua o Batman tem implicações interessantes. Este apelido foi dado à cidade de Nova York desde muito tempo atrás. Em 1807, Washington Irving (o autor de clássicos do fantástico como “Sleepy Hollow” e “Rip Van Winkle”, ambos de 1820) usou este nome para se referir a Nova York em seu jornal satírico Salmagundi.  O nome pegou, e quando foi criada a série de quadrinhos do Batman escrita por Bob Kane, em 1939, já era um apelido popular entre os habitantes da cidade. 

O nome original vem de um vilarejo na Inglaterra cujos habitantes tinham a fama de ser um pouco malucos.  Conta-se que o Rei da Inglaterra quis certa vez atravessar o povoado durante uma caçada e a população quis botar terra nesse projeto.  Na tradição da época, qualquer lugar por onde passasse o Rei tornava-se uma estrada pública, e o pessoal queria evitar um aumento de trânsito.  A solução deles foi fazerem-se de doidos. Quando os emissários do rei chegaram lá, viram um deles tentando afogar uma enguia num balde de água e outro tentando construir uma cerca em torno de um pássaro para que ele não fugisse. O Rei achou mais prudente desviar o trajeto.

A lenda prosperou e já no século 16 existia um folheto de cordel (“chapbook”) intitulado Merry Tales of the Mad Men of Gotham, “histórias divertidas do povo maluco de Gotham”, com versinhos tipo: “Three wise men of Gotham / went to sea in a bowl / and if the bowl had been stronger / my song would have been longer” (“Três sábios de Gotham / puseram-se ao mar num barco / e se o barco fosse mais resistente / minha canção seria mais longa”). Esse folheto ajudou a propagar a lenda sobre o desequilíbrio mental e a excentricidade dos habitantes de Gotham.

A palavra original vem de “goat” (cabra), pois se refere a um aprisco; mas a pronúncia cultivada pelos criadores de Batman  para Gotham City aproxima a palavra de “Gothic”, o que traz uma conotação nova ao termo.  Gótica é toda a atmosfera dos melhores quadrinhos e dos melhores filmes de Batman.  Uma tensão constante entre o céu e a terra, o bem e o mal, a honestidade e o crime.  O romance gótico acabou virando sinônimo de romance de terror devido à intensidade dos sentimentos que evoca, e da ameaça constante de intervenção do sobrenatural sobre a Terra.  Na Gotham City do Batman, o povo é ausente, e só surge como vítima das catástrofes criadas pelos vilões. Na tela só se veem com destaque os convidados dos coquetéis de Bruce Wayne e a platéia dos discursos do Comissário Gordon.  O povo de Gotham é normal, anônimo, remoto; excêntricas e carnavalizadas são as suas elites e os seus vilões.

3 comentários:

  1. E o interessante é que, os vilões do Batman além de serem malucos possuem uma inteligência acima do normal, e os seus mundos de fantasias são os modos e jeitos de causar terror.

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  2. O povo de Gotham é normal, anônimo, remoto; excêntricas e carnavalizadas são as suas elites e os seus vilões.

    Tem coisa mais familiar para o Brasil, mestre Braulio?

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  3. Bruno, eu acho o brasileiro um povo muito carnavalizado. O de Gotham é um povo amorfo, sem brilho, figurantes num filme de Kafka. No Brasil eu encontraria o Charada ou o Coringa na rua e mal daria uma olhada curiosa.

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