Na sexta-feira passada participei, junto com Ângela Bezerra
de Castro e Rinaldo Gama, de uma palestra-debate que abriu o “Augusto das
Letras”, evento promovido em João Pessoa pela Funjope. A Paraíba está
comemorando os 100 anos de publicação da primeira edição do Eu de Augusto dos
Anjos, um livrinho de poemas que teve uma tiragem de mil exemplares financiados
pelo irmão do poeta. Eu vejo tantos poetas jovens hoje em dia reclamando que as
grandes editoras recusam seus livrinhos de versos. Publiquem por conta própria, amigos. A obrigação
de publicar por conta própria é última garantia de independência poética. Se Augusto escrevesse sonetos imitando os de
Olavo Bilac, teria sido publicado pela Garnier.
Existe na Paraíba uma idéia de trazer os restos mortais de
Augusto que estão em Leopoldina (MG), onde ele morreu. Há um sentimento de
culpa envolvido nisso, porque com seu livro Augusto fez mais pela Paraíba do
que a Paraíba fez por ele em seus 30 anos de vida. Desiludido com as
oportunidades de trabalho em seu Estado, ele migrou para o Rio de Janeiro, onde
viveu numa pindaíba ainda maior. O emprego de professor em Leopoldina, em 1914,
deve tê-lo feito pensar: “Agora vai!”. Não sabia que tinha apenas alguns meses
de vida. Hoje, a cidade mineira o homenageia como a um dos seus. Por que
tirá-lo de lá? Nós o celebramos como um grande poeta paraibano; Leopoldina o
ama porque vê nele um grande poeta brasileiro, e existe nisso alguma lição.
Muitos talentos só são aceitos depois da morte, porque a
pessoa é um atrapalho, um empecilho, um ruído que não permite aquela época
despreparada enxergar a obra. Van Gogh, Edgar Poe, Lima Barreto, François
Villon, Beethoven... nenhum desses gênios era flor que se cheirasse, e a obra
só prosperou quando ficou sem eles. Augusto não era beberrão nem agressivo; os
testemunhos dos contemporâneos mostram que era cordial, afetuoso, dedicado aos
alunos. Mas era neurastênico, introvertido, cheio de excentricidades e
cacoetes. Era pouco dado às finezas sociais de uma época arrebitada e metida a
chique. Não era um poeta próprio para a Rua do Ouvidor, e entre aqueles bardos
da “belle époque” carioca estaria tão deslocado quanto Nick Cave na Ilha de
“Caras”.
Bom dia, Braulio.
ResponderExcluirNão é que, no sábado e domingo, durante o seminário sobre "Nelson Rodrigues: um homem de teatro", na tentativa de traçar uma breve historiografia de estilo literário psicológico e irônico, citei dois autores entre os quais foi, justamente, Augusto dos Anjos? E não é que, também, a professora que palestrou foi a Eliane Lisbôa? Ah! o segundo escritor citado foi Machado de Assis.
caramba! eu só tou sabendo agora desse debate! é inacreditavel a falta de divulgacao do augusto das letras..
ResponderExcluirEle sabia, caro Braulio. Quem escreve "Versos Íntimos" não é um desiludido nem um arrogante. Antes, um autor que tem plena consciência do impacto revolucionário de sua obra. Augusto sabe que seu leitor está, no mínimo, a um século adiante. Duro foi conviver com o pacto de silêncio dos poucos que perceberam a beleza estranhada de sua obra. Vês, certamente não estavas lá. Abraço augusto ao lúcido amigo. jotahah.
ResponderExcluirBraulio, desculpe a assinatura "anônima". Abraço, J A Assunção.
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