(esquema gráfico do Kishotenketsu)
Dizem os manuais de roteiro que toda história se baseia num
conflito entre A que deseja uma coisa e B que serve de obstáculo; a narrativa é
a descrição das ações de A para suplantar B e obter o que deseja.
Em geral, as histórias desse tipo têm uma estrutura em três fases, tipo apresentação / conflito / resolução, bem parecida com a famosa tríade marxista do tese / antítese / síntese, e que se baseia, igualmente, na noção de conflito.
Não nego a importância dessa teoria porque grandes filmes se baseiam nela. Mas daí a dizer que é a única maneira de contar histórias vai uma longa distância.
Em geral, as histórias desse tipo têm uma estrutura em três fases, tipo apresentação / conflito / resolução, bem parecida com a famosa tríade marxista do tese / antítese / síntese, e que se baseia, igualmente, na noção de conflito.
Não nego a importância dessa teoria porque grandes filmes se baseiam nela. Mas daí a dizer que é a única maneira de contar histórias vai uma longa distância.
Os japoneses têm uma outra estrutura (chamada
“kishotenketsu”) que divide a narrativa em quatro partes. Estas partes seriam, mais ou menos (cada fonte
traduz esses termos de uma maneira diversa):
1) situação;
2) intensificação da situação inicial;
3) um elemento deslocado, “non sequitur”, aparentemente sem nenhuma relação com o que viera antes;
4) o modo como a situação inicial assimila esse elemento e se transforma.
Uma nomenclatura diz: Situação, Expansão, Contraste e Resultante.
Outra os chama de Introdução, Desenvolvimento, Reviravolta e Conclusão.
1) situação;
2) intensificação da situação inicial;
3) um elemento deslocado, “non sequitur”, aparentemente sem nenhuma relação com o que viera antes;
4) o modo como a situação inicial assimila esse elemento e se transforma.
Uma nomenclatura diz: Situação, Expansão, Contraste e Resultante.
Outra os chama de Introdução, Desenvolvimento, Reviravolta e Conclusão.
Um exemplo:
1) Um garoto chega a um rio.
2) O garoto tenta em vão apanhar peixes com as mãos.
3) Noutro local, o vento arranca o chapéu de um homem e o joga no rio.
4) O menino usa o chapéu para apanhar peixes.
Note-se que não houve conflito, não houve (como nas histórias ocidentais) um confronto de forças, de vontades, de agressividades nem de espertezas.
A estrutura oriental mostra a confluência de duas linhas de acontecimentos. A primeira linha ocupa os passos 1 e 2; a outra linha aparece, de forma aparentemente gratuita e inexplicável, no passo 3; e no passo 4 as duas linhas se cruzam com uma resolução satisfatória e inesperada da situação inicial.
(Ver aqui um bom exemplo e boa teorização: http://bit.ly/Mehp1r).
1) Um garoto chega a um rio.
2) O garoto tenta em vão apanhar peixes com as mãos.
3) Noutro local, o vento arranca o chapéu de um homem e o joga no rio.
4) O menino usa o chapéu para apanhar peixes.
Note-se que não houve conflito, não houve (como nas histórias ocidentais) um confronto de forças, de vontades, de agressividades nem de espertezas.
A estrutura oriental mostra a confluência de duas linhas de acontecimentos. A primeira linha ocupa os passos 1 e 2; a outra linha aparece, de forma aparentemente gratuita e inexplicável, no passo 3; e no passo 4 as duas linhas se cruzam com uma resolução satisfatória e inesperada da situação inicial.
(Ver aqui um bom exemplo e boa teorização: http://bit.ly/Mehp1r).
Essa progressão é usada em quadrinhos, em tirinhas (chamadas
“yonkoma”), em poemas, em contos populares, em artigos. Também em poemas: eis um exemplo poético no
verbete inglês da Wikipédia:
1) Itoya tem duas filhas;
2) Uma tem 16 anos e a outra 14;
3) Ao longo da História os guerreiros matavam seus inimigos com arco e flecha;
4) Mas as filhas de Itoya matam com os olhos.
A referência aparentemente despropositada no item 3 é explicada no 4: ela serve de metáfora para caracterizar os “olhos matadores” das belas filhas de Itoya.
1) Itoya tem duas filhas;
2) Uma tem 16 anos e a outra 14;
3) Ao longo da História os guerreiros matavam seus inimigos com arco e flecha;
4) Mas as filhas de Itoya matam com os olhos.
A referência aparentemente despropositada no item 3 é explicada no 4: ela serve de metáfora para caracterizar os “olhos matadores” das belas filhas de Itoya.
Bendito vento!
ResponderExcluirFico pensando qual é a estrutura que sustenta uma obra de arte como Morangos Silvestres, onde aparentemente não acontece muita coisa, mas sempre toca profundamente.
ResponderExcluirGustavo, faz tempo que vi Morangos Silvestres, não sei como é a estrutura. Mas há um conceito de "plot" ou enredo que eles chamam: "enredo revelatório". São aquelas histórias em que tudo de importante já aconteceu e um personagem está simplesmente recordando os fatos de maneira um pouco aleatória, e revelando-os aos poucos ao leitor. Talvez seja o caso.
ResponderExcluirEu acho que é válido. Principlamente como um treino. Fico imaginando estruturas de fimes como Cidade dos sonhos, Rua dos crocodilos dos irmãos quay e tantos outros, que beira um estado de estranheza e imersão total.
ResponderExcluirBraulio, acho que é mais ou menos isso, embora haja no filme de Bergman um fator onírico, onde parte da memória é revelada em sonhos estranhos do personagem, revelando indiretamente seu estado de espírito e seus flagelos internos.
ResponderExcluirBraulio, duas coisas:
ResponderExcluir1. Um comentarista, cujo nome infelizmente não recordo, disse certa vez que a narrativa oriental pode apresentar dificuldades de compreensão no expectador ocidental devido à sua extrutura. Concorda com isso?
2. No seu exemplo sobre o garoto e os peixes, o ato de não conseguir pescá-los com as mãos não pode se tornar um conflito interno devido uma possível frustração?
Abraço!
Delfin, os conceitos de tensão dramática, causa e efeito, etc são diferentes no Oriente e no Ocidente. Só esse tema já rendeu milhares de páginas, acho. Quanto ao conflito, qualquer coisa pode ser vista como conflito, e é isto que esvazia o conceito. Uma folha levada pelo vento pode ser um conflito entre o vento e a força da gravidade. Em termos de dramaturgia ou literatura, precisa ser conflito mais claro: confronto, disputa, choque explícito de 2 vontades.
ResponderExcluirCompreendo e concordo.
ResponderExcluirInteressante como essa estrutura em quatro atos oriental meio que ecoa a estrutura de uma tese acadêmica.
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