Os adeptos da numerologia vivem mudando os próprios nomes
para fechar uma conta cabalística qualquer, aí é uma tal de duplicação de
consoantes, de inserção de “h” mudo a torto e a direito... Funciona?
Sei lá. Mas a verdade é que quando um sujeito não se dá bem com o
próprio nome, melhor mudá-lo por alguma coisa escolhida por ele mesmo. Dá mais
certo do que os nomes que recebemos, à nossa revelia, quando nascemos e somos
registrados. A tradição do “nome
artístico” vem um pouco daí, misturando a necessidade de evitar nomes
excessivamente comuns, ou pouco eufônicos, por alguma coisa mais
decorativa. O cinema e a música popular
estão cheios disso, e ainda hoje é um passatempo habitual das revistas de variedades
fornecer uma relação de nomes banais ou impronunciáveis para que o leitor tente
adivinhar quem é o famoso a que cada um deles pertence.
Alguns casos são mais interessantes. Vi uma vez na TV um documentário sobre Bill
Wyman, o baixista dos Rolling Stones (que já não pertence mais à banda desde
1993), no qual ele comentava o nome artístico que escolhera (seu nome original
é William George Perks). O verbete sobre
ele na Wikipedia diz que ele quis homenagear um amigo com quem serviu na Força
Aérea, mas nesse documentário que vi ele afirma que Bill Wyman era um colega de
escola que era craque no futebol, e pelo qual ele tinha muita admiração. E ele afirma: “Meu nome original estava
associado a uma infância pobre, sofrida, numa família que não me compreendia e
não me aceitava como eu sou. Quando
passei a me chamar Bill Wyman, foi como se tivesse me tornado outro indivíduo,
mais seguro, mais tranquilo, e daí para a frente tudo mudou”.
Algo parecido aconteceu com Voltaire, o famoso escritor e
enciclopedista. Seu nome original era François-Marie
Arouet, mas ele o detestava. Adotou o pseudônimo de Voltaire, em parte porque
também tinha relacionamento difícil com a própria família, em parte porque aquele
nome, em si, o desgostava. Numa carta a
Jean-Baptiste Rousseau, ele pediu que a resposta fosse endereçada a “Monsieur
de Voltaire”, dizendo: “Fui tão infeliz sob o nome de Arouet que adotei outro,
para não ser confundido com o poeta Roi” (no que parece estar se referindo a
Adenes le Roi, poeta famoso da época).
Um caso interessante é o de José Saramago. Seu nome na verdade deveria ter sido apenas José de Sousa, mas o funcionário do registro civil, bêbado segundo o pai, acrescentou o apelido da família no final. Saramago é um tipo de erva ruim. E como ficou interessante na capa de um livro! Incomum e enigmático.
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