Há quem venda a alma
e alugue o corpo por um elogio, mas um elogio pode nos trazer mais desgostos do
que satisfação. Nem vou falar no elogio que ilude ainda mais um iludido:
“Fulaninha, seu disco é ótimo, acho que tem tudo a ver você copiar a voz, o
cabelo e os arranjos de Amy Winehouse!”
Fulaninha embarca na conversa e dá com os burros nágua. Não, estou me
referindo a outras ramificações dessa arte tão escorregadia, a arte de falar
bem, tão complexa quanto a de falar mal.
Existe o elogio
equivocado, aquele que em que o crítico ou o amigo não entendeu absolutamente o
que você fez, e o elogiou por imaginar algo diferente. Ocorre muito quando a gente usa a
ironia. Um texto é lido por pessoas de
diferentes visões estéticas, políticas, etc. Às vezes a gente publica uma coisa
sarcástica, e surge alguém que leva o texto ao pé da letra e acha aquilo maravilhoso.
Um tipo que me
incomoda é o elogio que aproveita para falar mal de terceiros, ainda mais se
são meus amigos. “O livro de BT é infinitamente melhor do que as medíocres
tentativas de A, B ou C...” É o que
basta para o alfabeto inteiro ficar com raiva do meu livro. E muitas críticos
só sabem criticar assim, por exclusão – algo só é bom ao ser comparado a outra
coisa que o crítico acha ruim (e que ele às vezes não percebe ser bem melhor
que a obra que elogiou).
Nem deveria falar do
elogio sem substância, o elogio que nada diz a não enfileirar adjetivos, mas
esta é uma praga que parece residir no tipo de tinta usado na imprensa, então
cumpre combatê-la. Publico um conto, o
crítico X diz apenas que é “instigante, envolvente”. Já o crítico Y diz que é
“uma mistura, que não deu certo, da temática de Henry James com a prosa de
Machado de Assis”. Este último, mesmo não gostando, talvez tenha me mostrado
algo que eu não tinha percebido.
Existe um certo tipo
de elogio interesseiro que todos nós praticamos, conscientemente ou não. Consiste em louvar a brasa alheia trazendo-a
para perto da nossa sardinha. Faço um
mea-culpa, por exemplo, no que diz respeito à literatura fantástica e à FC. Muitas
vezes nós, militantes destas duas excentricidades, acabamos elogiando uma obra
que nem é tão boa assim, mas que nos parece boa porque vemos nela o mesmo tipo
de “persuasão” que cultivamos. O elogio é interesseiro porque não nos interessa
tanto o valor daquela ovelha desgarrada, o que queremos na verdade é engrossar
nosso rebanho.
Bem colocado meu chapa.
ResponderExcluir