sexta-feira, 3 de agosto de 2012

2940) Chris Marker (3.8.2012)


Faleceu dias atrás, aos 91 anos, o cineasta Chris Marker, o autor de La Jetée, talvez seu filme mais conhecido.  Mesmo na tribo dos cinéfilos há muita gente que o desconhece, porque Marker escolheu aquela forma peculiar de invisibilidade que é a direção de documentários.  E ainda por cima aqueles documentários que jamais se enquadrariam numa programação tipo Discovery Channel ou National Geographic. Marker foi um dos sujeitos que mexeram no software do documentário, tanto quanto Robert Flaherty, Jean Rouch, Eduardo Coutinho. Em 2009 o CCBB do Rio de Janeiro exibiu uma enorme mostra de quase toda sua obra, que nos deu a medida da variedade de seus interesses e da quantidade de material que produziu.

Os filmes de Marker foram chamados de “ensaios cinematográficos” e de fato eles são o equivalente aos ensaios literários que misturam o relato jornalístico, a ilustração com pequenos episódios ficcionais, a associação livre de idéias, o memorialismo, o humor, o panfleto, a análise.  Marker faz isso com imagens (de arquivo, ou registradas por ele mesmo), áudio, e principalmente através de narrações em “off”, recurso que ele sempre usou de maneira muito pessoal e enriquecedora.  A narração em “off” virou no documentário o que alguns diretores chamam, com bom humor, de “o último reduto dos covardes”, ou seja, quando o sujeito não sabe usar as imagens para passar uma informação, ele joga a toalha e manda um locutor dizer. Mas nos filmes de Marker as narrações fazem um contraponto incessante com as imagens, e em alguns casos pode-se dizer que são dois fluxos paralelos, um de imagem, outro de som, que parecem realizados um à revelia do outro, mas convergem e se misturam na mente do espectador.

La Jetée (1962), história de FC sobre uma viagem no tempo para tentar evitar uma catástrofe, é conhecido como “o filme que inspirou Os 12 Macacos”, mas li por aí que inspirou também o videogame Fallout.  É um filme feito inteiramente sobre fotos fixas em preto e branco, acompanhadas de narração. A Embaixada (1973) mostra um numeroso grupo de pessoas que se refugiam numa embaixada estrangeira para fugir a um golpe militar que está fuzilando gente nas ruas; somente nas últimas imagens ficamos sabendo que aquilo ocorre em Paris.  O fundo do ar é vermelho (1977) é uma colagem fascinante sobre as guerras e os movimentos políticos do século 20, enquanto O sexto lado do Pentágono (1968) documenta a famosa marcha sobre o Pentágono em protesto contra a Guerra do Vietnam. Marker criou um cinema só seu mas do qual todo cineasta tem o que aprender, e não duvido que daqui a 50 anos sua obra ainda sirva de referência.

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