domingo, 6 de novembro de 2011

2705) Os três Cristos (4.11.2011)



Segundo um artigo de Jenny Diski (http://bit.ly/qmGqcA), uma experiência psicológica muito interessante foi a que o Dr. Milton Rokeach realizou em 1959 com três pacientes psicóticos do Ypsilanti State Hospital (EUA). O tema da pesquisa eram os sistemas de crenças das pessoas: “como as pessoas desenvolvem e mantêm (ou modificam) suas crenças de acordo com suas necessidades e com as exigências do mundo social em que vivem”.

Rokeach afirma que existem versões conflitantes sobre o mundo e que as pessoas recorrem a algum tipo de autoridade (religiosa, científica, política, etc.) para se posicionar. Uma das crenças básicas do ser humano é a própria identidade (eu sou eu); e essa identidade é única e personalizada (eu não posso ser você; você não pode ser eu). Ele fez uma experiência em sua própria casa, trocando os nomes de suas duas filhas pequenas; no começo era uma brincadeira, mas quando ele continuou insistindo, com ar sério, as duas foram ficando nervosas e começaram a chorar.

Rokeach reuniu três internos do hospital que afirmavam ser Jesus Cristo. A experiência resultou no livro Os Três Cristos de Ypsilanti (1964). Eles eram Clyde (70 anos), Joseph (58) e Leon (40). Os dois primeiros estavam internados há décadas, o outro há cinco anos. O médico pôs os três para conviverem juntos e executarem juntos pequenas tarefas, sob vigilância constante. (Diz Jenny Diski que era algo parecido ao “Big Brother”, com a diferença de que no BB a alucinação das pessoas é de que são famosas ou interessantes.)

Os três “Cristos” desenvolveram uma convivência social em que cada um mantinha sua posição mas procurava não antagonizar os outros dois. Leon dizia: “Eu sei quem eu sou”, e Joseph respondia: “Eu não quero tirar isto de você. Pode ficar. Eu não o quero”. Joseph explicava ao médico que os outros dois eram doidos, já que estavam todos num hospital psiquiátrico. Clyde assumia um tom imperial, e era de opinião que os outros dois eram seres inferiores, e além do mais estavam mortos. Dizia ao médico: “Eu sou ele. Está vendo? Entenda, agora!”. E Leon afirmou a certa altura: “Vocês estão usando um paciente contra o outro, tentando fazer lavagem cerebral e também manipular a situação através de vudu eletrônico”.

Me veio a idéia de pegar três indivíduos sadios, que não se conhecessem entre si: um cristão, um judeu e um muçulmano. E repetir a experiência, perguntando-lhes: “Qual de vocês acredita no verdadeiro Deus?”. Teríamos então dois conjuntos de crenças conflitantes. E talvez descobríssemos semelhanças inesperadas entre eles, porque estariam fazendo afirmações igualmente impossíveis de provar.

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