sexta-feira, 21 de outubro de 2011

2692) O Espaço Selvagem (20.10.2011)





Um tema que a ficção científica brasileira tem cultivado, sem nenhum planejamento ou esforço coordenado, é o que poderíamos chamar de Espaço Selvagem, o espaço do vasto interior brasileiro, o Brasil profundo que ainda não foi descoberto e que pode guardar para a humanidade variados tipos de surpresa. 

Não é uma novidade no gênero, porque os ingleses (H. Rider Haggard, principalmente) inventaram o gênero dos Reinos Perdidos na Floresta. Os romances brasileiros, no entanto, não nos interessam por terem inventado um gênero novo, mas por terem utilizado uma fórmula européia para refletir sobre o Brasil.

Menotti Del Picchia escreveu dois romances fundamentais desse ciclo, A República 3.000” (ou A Filha do Inca, 1930) e Kalum, o mistério do sertão (1936). 
Jerônymo Monteiro, um dos pais da FC brasileira, publicou em 1934 A Cidade Perdida e em 1949 A Serpente de Bronze, onde aparecem os atlantes. 

O mito de Atlântida retorna em Os Bruxos do Morro Maldito e os Filhos de Sumé de Agostinho Minicucci (1992), e é ressuscitado na Paraíba (mais especificamente, na Pedra do Ingá) no poema épico A Atlântida de Amílcar Quintella Jr. (1957)

Descendentes do império inca também aparecem em A Amazônia misteriosa de Gastão Cruls (1925) e em A Clã Perdida dos Incas de O. B. R. Diamor (1958). Herberto Salles é um caso curioso de romancista regional (Cascalho, 1944) que depois se voltou para a FC com romances como O fruto do vosso ventre (1984) e A porta de chifres (1986), romances ambientados no interior, num contexto de apocalipse ecológico. 

Em épocas mais recentes, Roberto de Sousa Causo tem feito da Amazônia o cenário de seus “thrillers” militares futuristas, como Terra Verde (2000), O Par: uma novela amazônica (2001), etc. Cristovam Buarque, em Os Deuses Subterrâneos (1994), explora uma civilização no subsolo do Planalto Central.

A Amazônia e os cerrados do Centro-Oeste são os cenários preferenciais desses romances, é é curioso notar que a Atlântida e os Incas são frequentemente citados. É como se no Brasil, pela sua extensão e pela inacessibilidade de seu interior, essas civilizações estivessem tendo uma sobrevida. (Algo parecido com o que Conan Doyle imaginou em O Mundo Perdido: que no Brasil haveria um platô onde os dinossauros ainda existiam.) 

Não é exclusividade do Brasil a existência de um Espaço Selvagem literário; o que diferencia nossas histórias das demais é a variedade de paisagens físicas e geológicas, a proximidade histórica e geográfica com os Incas e a Atlântida, etc. São as fagulhas literárias do choque tectônico, ainda em pleno curso, entre a Europa e a América.




Um comentário:

  1. Parece-me que o italianos foram quem melhor explorou até agora o tema das civilizações sulamericanas perdidas/secretas nos quadrinhos, como a Bonelli Comics.

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