Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quarta-feira, 28 de setembro de 2011
2673) Livros Proibidos III (28.9.2011)
A Semana dos Livros Proibidos (24-set a 1-out) pretende, entre outras coisas, defender a liberdade de expressão e de publicação de livros. Uma estatística curiosa no saite da American Library Association (http://bit.ly/LdDLu) mostra que da lista dos “100 Romances mais Importantes do Século 20” escolhidos pelo Radcliffe Publishing Course, 46 foram em algum momento proibidos ou denunciados para proibição em algum país. Geralmente por questões morais, porque o livro contém cenas de sexo explícito; ou defende atos sexuais considerados ofensivos (homossexualismo, adultério, promiscuidade, prostituição, masturbação, etc); ou usa linguagem ofensiva, imoral (palavrões, etc.). Esses valores mudam de país para país. O que é pornográfico aqui não o é acolá, então não é de admirar que o Ulisses de Joyce, o Lolita de Nabokov, os Trópicos de Henry Miller e O Amante de Lady Chatterley de D. H. Lawrence tenham sido proibidos mundo afora, inclusive em seus países de origem.
Nenhum desses livros, que eu me lembre foi proibido no Brasil. Eram cercados de tabus e de críticas, mas eram publicados, sim, e ninguém foi preso por vendê-los “por baixo do pano”. Paulo Francis se referia a Lady Chatterley como “o livro que todo mundo leu segurando com uma mão só”. Talvez tenha sido assim para a geração dele; eu me lembro em 1967, no Estadual da Prata, o pessoal com ar conspiratório emprestando uns aos outros o Sexus de Henry Miller e indicando: “Capítulo 16...”. Era em plena ditadura, mas esses livros passavam. A Revolução Sexual estava embranquecendo os cabelos dos nossos pais, mas os pilares da Pátria permaneciam incólumes. A ditadura estava mais preocupada em proibir coisas mais específicas; talvez o Que Fazer? de Lênin ou o Torturas e Torturados de Márcio Moreira Alves.
Ninguém lembra Cassandra Rios, que nunca foi grande escritora, mas foi perseguida durante décadas por seus romances eróticos: Tessa, a Gata, A Paranóica, Eudemônia, O Bruxo Espanhol... Li na adolescência (na casa de meus primos) A Lua Escondida, uma história de paixão lésbica; e anos depois li As Mulheres dos Cabelos de Metal, uma ficção científica erótica que passou despercebida até da censura. Quando as pessoas fazem campanha pela liberação da literatura erótica, geralmente estão pensando em Joyce ou Miller. Minha dúvida é: na hora do naufrágio, esses intelectuais teriam coragem de colocar Cassandra Rios no bote salva-vidas? Ou a salvação é apenas para os que são também intelectuais? A arte “redime” o erotismo? É preciso ser uma grande obra literária para que os intelectuais se mobilizem contra sua proibição?
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