Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 17 de setembro de 2011
2663) Como escrever depressa (16.9.2011)
(Tom Gauld)
Escrever depressa, produzir tantas mil palavras de texto por dia... É engraçado como se falava pouco nisso na História da Literatura Brasileira. A mentalidade nos 200 anos de nossa prosa de ficção é a da criação de obras de arte, não a da produção profissional de laudas de texto.
O literato brasileiro vê com admiração e simpatia a frase atribuída a Oscar Wilde: “Levei a manhã inteira para tirar uma vírgula, e a tarde toda para colocá-la de volta”.
E vê com certo constrangimento (é o meu caso, pelo menos) a afirmação de Isaac Asimov de que datilografava um conto inteiro do começo ao fim, e depois, sem sequer fazer correções à mão, botava num envelope e mandava para todas as revistas conhecidas até que alguma o aceitasse para publicação.
São o Artista e o Profissional: o que quer escrever muito bem e o que quer escrever bem muito.
Ambas as mentalidades podem produzir grandes livros e livros medíocres. Um artigo de Michael Agger na revista eletrônica Slate usa uma maneira diferente de classificar esses dois tipos. Diz ele:
“Alguns escritores são beethovenianos, que desprezam os resumos prévios e as anotações, e ao invés disso compõem rascunhos de imediato, para descobrir o que querem dizer, enquanto outros são mozartianos, cujo costume é adiar indefinidamente a hora de escrever, enquanto se dedicam a longa planificação e planejamento”.
Não é exatamente a mesma coisa, mas reforça a idéia de que existem pelo menos duas abordagens básicas para o ato da escrita. E muitos pretendentes a escritor perdem um tempo danado em oficinas literárias onde professores (bem intencionados, claro) tentam convencê-los a escrever de um jeito que não é o seu jeito natural de pensar e de produzir esforço intelectual.
Agger cita Chenoweth & Hayes (The Cambridge Handbook of Expertise and Expert Performance), para quem as frases da prosa são produzidas numa estrutura do tipo rajada-pausa-avaliação, rajada-pausa-avaliação, sendo que quanto mais experiente o autor mais longas são as rajadas de texto que ele produz a cada vez.
Já Kellogg, na mesma obra, afirma que escrever a sério é ao mesmo tempo uma questão de pensamento, de linguagem e de memória, e pode se comparar ao esforço mental de um jogo de xadrez profissional ou de uma performance musical de alto nível.
A mente do escritor está manejando três coisas: o texto que escreve, as coisas que pretende dizer em seguida, e, de modo crucial, teorias de como os seus possíveis leitores irão interpretar o que foi escrito.
Talento, experiência e estado mental adequado podem fazer com que alguém escreva dessa forma durante um tempo bem longo, e com razoável rapidez.
Passei por aqui graças ao Aventura de ler e achei incrível. Voltarei!!
ResponderExcluir