Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 29 de julho de 2011
2621) Santos 4x5 Flamengo (29.7.2011)
Um jogo para ficar na História, e uma vitória espetacular do time por que a gente torce. Essas duas felicidades do futebol nem sempre coincidem; quando isso acontece, é coisa pra gente acender uma vela para cada Deus do Panteão romano. Aconteceu 4ª.feira passada. Santos e Flamengo fizeram na Vila Belmiro um jogo épico, com reviravoltas sensacionais, raros lances de violência, gols extraordinários e dezenas de jogadas brilhantes. Escrevo uma hora após o jogo, com a TV desligada e a cidade agora silenciosa. Por ironia do destino, não estou no Rio de Janeiro. Mas senti o chão tremer.
Em jogo de muitos gols e de muitas viradas, costumo fazer um esquema mental da ordem em que os gols foram marcados, e que contam a história do jogo. Santos, Santos, Santos, Flamengo, Flamengo, Flamengo, Santos, Flamengo, Flamengo. O Santos teve um começo arrasador com três gols que pareciam ter definido o resultado; o Flamengo sabe suprir a ausência de atacantes (Deivid é um caso patológico de incompatibilidade com a bola) com um meio de campo bem treinado na arte de costurar a bola e entrar na área. Fez três gols e se beneficiou da ousadia fora-de-hora de Elano que quis bater um pênalti com cavadinha; foi após a defesa de Felipe que o Fla empatou o jogo. (Uma bela cabeçada de Deivid, para ser justo; mas não é impossível que ele estivesse tentando fazer outra coisa). No 2º. tempo o Santos fez mais um e parecia que tudo ia recomeçar, mas Ronaldinho Gaúcho repetiu uma cobrança rasteira de falta que o vi fazer pelo Barcelona, e depois sacramentou a virada num contra-ataque mortal.
Note-se que ainda houve o pênalti perdido, e pelo menos um pênalti não marcado e um gol erradamente anulado para cada time. Não era uma pelada no Aterro, era um jogo de dois times de ponta, um recente campeão brasileiro e o atual campeão das Américas, e poderia perfeitamente ter terminado com um placar de 7x7 ou de 8x6 para qualquer um dos dois. O terceiro gol do Santos, de Neymar, foi uma gostosura de ver e rever. E vamos aplaudir os zagueiros, que tentaram o que foi possível, na bola, e não apelaram.
Jogos assim nos dão gás para continuar acreditando no futebol durante pelo menos mais um ano, assistindo peladas insuportáveis, pancadarias vergonhosas, partidas que são um verdadeiro concerto de trapalhadas de comédia pastelão. Deixamos de trabalhar, de namorar, de dar atenção à família ou aos amigos, de ler um bom livro, e nos plantamos feito idiotas na frente da TV na quarta-feira à noite ou no domingo de tarde. Por que? Porque vimos um jogo que redefiniu nossos parâmetros, e sabemos que tudo que acontece pode acontecer de novo. Isto não é uma verdade científica, mas é uma regrazinha que se repetiu tantas vezes em nossa vida que não custa nada levá-la a sério mais uma vez. Nada nos reconcilia tanto com o futebol quanto um jogo para ficar na História, um jogo que mesmo que a gente perdesse ficaria grato por ter vivido.
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