Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sábado, 25 de junho de 2011
2592) O Lux Jornal e o Google (25.6.2011)
Entre as profissões em extinção no mundo inteiro certamente está a de “recortador, por encomenda, de todas as notícias de jornal referentes a uma pessoa ou entidade”. Antigamente existia uma empresa chamada Lux Jornal, que fazia exatamente isto. Quando a gente tomava parte em algum evento importante (por exemplo, estreava um show ou lançava um livro) era costume ligar para o Lux Jornal, dar o nosso nome e contratar os serviços. Durante os dias seguintes, qualquer referência que fosse publicada em qualquer jornal do país seria localizada, recortada, colada numa folha de papel (com a anotação do nome do jornal, a página e a data) e colocada num envelope. Ao fim de um período previamente acertado (uma semana, duas, um mês, etc.), esse material nos era remetido. E a gente pagava o preço combinado.
Eu já recorri ao Lux Jornal algumas vezes. Não me lembro quanto custava. Não era um preço inacessível, mas também não era uma coisa que a gente se dispusesse a contratar sem um objetivo específico (só pra ver se estavam falando na gente, p. ex.). Custava alguma grana, sim. Afinal, a empresa vivia disso, e tinha que pagar as toneladas de jornal que consumia.
O Lux Jornal foi suplantado pelo Google. E o mais interessante é que mesmo as pessoas que usavam o Lux Jornal acham que o Google é algo que surgiu do nada, que antes do Google existir não havia nada exercendo essas tarefas de busca. Reconheço que as buscas do Google são mais específicas do que a do Lux Jornal. Neste, não faria sentido mandar recortar toda matéria de jornal onde aparecesse a palavra “deputado” ou a palavra “gol”. São buscas mais variadas, também. E sempre que vejo gente celebrando o Google tudo acaba se resumindo a uma celebração da sua velocidade. Pelo que vejo, velocidade de resposta é um critério valorizadíssimo em nosso mundo. Vi há algum tempo uma imagem curiosa, o “Google Classic”, uma página do Google reproduzida como se fosse uma folha de papel impressa em estilo retrô, tendo abaixo: “Aguarde 30 dias pelos resultados”. Era exatamente o conceito do Lux Jornal. A imagem era engraçada porque obrigava pessoas do mundo de hoje a imaginar um Google que mandasse os resultados pelo correio, num envelope.
Arthur C. Clarke disse que qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia. A magia, segundo essa visão, é a produção de efeitos extraordinários sem que a gente perceba as mediações (todas as pequenas e sucessivas tarefas de ordem técnica) que produziram aquele resultado. Para mim, acender uma lâmpada elétrica não é magia, porque eu posso reconstituir mentalmente como aquilo é feito: o interruptor, o contato, a corrente elétrica, o fio, o filamento da lâmpada... Um primitivo não sabe. Ele vê a lâmpada se acender e diz “Caramuru!”. O Google é o conceito do Lux Jornal sofisticando-se até chegar a um ponto em que produzirá os resultados e nenhum de nós será capaz de entender como aquilo aconteceu.
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