terça-feira, 19 de abril de 2011

2534) O prelo de cordel de Leandro (19.4.2011)



The History Channel, canal da TV a cabo (canal 82 da Net, aqui no Rio) tem um simpático programa chamado Detetives da História, em que um casal de apresentadores viaja pelo Brasil tentando elucidar a possível autenticidade histórica de objetos, documentos, etc. Dias atrás foi exibido o programa “Prelo de cordel / Lincoln K”, em que eles investigavam um automóvel Lincoln que teria servido ao presidente Getúlio Vargas, e uma velha impressora de cordel que teria pertencido a Leandro Gomes de Barros, e que se encontra hoje na Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC), em Santa Teresa (Rio).

O programa começa com o presidente da ABLC, Gonçalo Ferreira da Silva, e depois entrevista a pesquisadora Sylvia Nemer, da Casa de Rui Barbosa. Não vou detalhar aqui todo o percurso de idas e vindas feito pelo apresentador André Guerreiro, mas ele ainda entrevista o cordelista Arievaldo Viana (Fortaleza), o gráfico Vicente Nascimento (Crato-CE) e o xilógrafo José Lourenço (Juazeiro-CE). É uma viagem pela história da poesia popular nordestina, e tenho esperança de que num futuro próximo o programa possa ser visto online no YouTube ou mesmo no saite de origem (http://seuhistory.com).

Para Arievaldo Viana, o prelo, se pertenceu a Leandro Gomes de Barros (1865-1918), passou de suas mãos para as de Francisco das Chagas Batista (1882-1930), o grande cordelista paraibano que manteve durante anos a “Livraria Popular Editora”, em João Pessoa. Das mãos de Chagas o prelo teria ido para seu sobrinho Pedro Batista, de Guaratiba (PE), e deste para Manoel Camilo dos Santos (1905-1987), dono da tradicional “Estrella da Poesia”, em Campina Grande. O general Umberto Peregrino, dono da “Casa de Cultura São Saruê”, teria sido o responsável pela vinda do prelo para o Rio de Janeiro; e dele o prelo passou para Gonçalo Ferreira, quando a ABLC encampou o material da Casa São Saruê.

Já o gravador José Lourenço, da “Lira Nordestina”, a maior gráfica de cordel ainda existente, acha que o trajeto foi outro. Após a morte de Leandro em 1918, o prelo teria passado em 1921 (como passou o resto do seu acervo) para João Martins de Athayde (1880-1959), e deste teria ido em 1945 para as mãos do grande editor José Bernardo da Silva (1901-1972), criador da Tipografia São Francisco, que futuramente daria origem à atual “Lira Nordestina”. E teria sido justamente de José Bernardo que o General Umberto Peregrino, grande pesquisador e entusiasta da poesia popular, teria adquirido o prelo que levou para o Rio.

Vejam só. É um programa com menos de uma hora, mas tem material suficiente para que um pesquisador que ame e conheça a poesia popular produza um livro contando (sem a pretensão de esgotar um inesgotável assunto) quem foram essas pessoas, e como esse prelo passou ou não passou de uma para outra, levando consigo um século de poesia popular brasileira. Eu não tenho tempo para um projeto assim, de longo alcance. Alguém se habilita?

7 comentários:

  1. oi braulio, eu sou produtora do festival de brincantes, promovido pela rosane almeida, estou tentando fazer contato num numero fixo que tenho aqui mas nao atende desde ontem! a rosane nao tem o seu celular! se possivel, poderia me mandar por email para que eu possa te ligar e convidar formalmente para participaçao numa mesa de debates em julho no nosso evento??? meu contato é: maira@institutobrincante.org.br - fico no aguardo! abraços! maira viana!

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  2. Bráulio, no livro de Ruth Brito Lêmos Terra "Memórias de Lutas - Liteeatura de Folhetos no Nordeste - 1893 - 1930" encontramos o seguinte depoimento de Julieta Gomes de Barros, filha de LEANDRO: "Entre 1910 e 1911 Leandro Gomes de Barros teria adquirido um prelo que instalou em sua residência no Recife, à rua do Alecrim, 38-E. Neste prelo manual, seus filhos, instruídos por um tipógrafo por ele contratado, imprimiram durante alguns meses folhetos de sua autoria. Leandro viajava constantemente, e seus filhos, ainda pequenos, mais brincavam que imprimiam, o que levou sua mulher a convencê-lo a desfazer-se da máquina impressora. Leandro vendeu-a para Francisco das Chagas Batista."
    Sabemos que CHAGAS BATISTA estabeleceu-se como editor, na Parahyba Capital, em 1913. E que seu irmão Pedro Batista, genro de Leandro, teria levado um de seus prelos para Guarabira, onde também montou uma folheteria. Suponho que Ruth Terra, que entrevistou a filha de Leandro e o pesquisador Sebastião Nunes Batista, filho de Chagas, seja a pessoa mais autorizada para falar deste assunto.

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  3. Os folhetos de Leandro que se encontram no acervo da Casa de Rui Barbosa, em sua grande maioria, foram impressos em tipografias terceirizadas de livrarias, jornais, etc. São bem poucos os folhetos impressos na Typografia Perseverança, do próprio Leandro, que funcionou somente entre 1911 e 1913.

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  4. Os folhetos de Leandro que se encontram no acervo da Casa de Rui Barbosa, em sua grande maioria, foram impressos em tipografias terceirizadas de livrarias, jornais, etc. São bem poucos os folhetos impressos na Typografia Perseverança, do próprio Leandro, que funcionou somente entre 1911 e 1913.

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  5. Esse assunto é fascinante, Arievaldo, e na verdade qualquer máquina impressora comprovadamente autêntica (uma que imprimiu as obras de A ou B) é uma relíquia. Importante para o museu do cordel, ou seja, a reunião de todo mundo que preserva material e troca informações.

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  6. Caro Bráulio Tavares. Antes tarde que nunca: assisti a esse programa que você menciona no blog. É possível que o $$$ destinado à produção dele tenha acabado antes que o historiador investigasse todas as pistas que os entrevistados deixaram, como o consistente e técnico depoimento que deu o gravador José Lourenço, da “Lira Nordestina”, confrontando a datação do prelo, de seus tipos gráficos, com a trajetória de Leandro Gomes de Barros. Foram muitos os folhetos publicados com ele na Casa São Saruê, em Santa Teresa (RJ). O poeta gravador Marcelo Soares com esse prelo manual imprimiu tanto obras suas (xilogravuras) como de outros poetas (folhetos). Nesse prelo foi impresso o folheto “ABC de Carlos Zéfiro” (1983), de Sá de João Pessoa, patrocinado pela Casa São Saruê e Fundação Rio Arte. A continuação que você oferece também é interessante, mas eu poria na boca do próprio prelo a incumbência de contar o seu (dele) percurso pela literatura de cordel. Vai nessa?

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