Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
terça-feira, 15 de março de 2011
2504) “O Besouro Verde” (15.3.2011)
Por tédio e por desfastio, topei assistir o mais novo filme de super-herói em cartaz nos bairros de Hollywood, essa rede urbana descontínua que se prolonga até os shopping-centers das cidades brasileiras. Cinema de shopping é algo tão norte-americano que em breve estarão dispensando as legendas, cobrando a pipoca em dólar e exigindo visto. E, por outro lado, não existe nada tão visceralmente norte-americano quanto o conceito de super-herói, o herói cheio de poderes sobrenaturais (Superman, Homem Tocha, Mr. Manhattan, etc.) ou tecnológicos (Batman, Wolverine, etc.). Neste sentido, os Estados Unidos vieram a produzir o mais complexo e impressionante panteão heróico dos tempos modernos, num delírio coletivo que se equipara ao da mitologia grega, mitologia nórdica e outras menos conhecidas (por mim).
O Besouro Verde não é um bom filme. Não porque tenha grandes defeitos, apenas porque não tem qualidades. Suas qualidades são as mesmas que poderiam ser encontradas num gibi de 2 reais. Não é preciso gastar tanto dinheiro para colocá-las na tela. (Segundo o IMDb, o filme custou 120 milhões de dólares.) As qualidades são uma imageria bizarra e aquela sensação de um sonho-em-forma-de-desenho-animado, que torna assistível qualquer filme de super-heróis, desde os que são bons (Watchmen, Batman Begins, etc.) até os que são totalmente irrelevantes e descartáveis, como este. Gastarei agora algumas linhas criticando o que sempre critico: as perseguições em automóveis, as explosões, as brigas de socos destruindo a mobília, a corrida contra o relógio para evitar que o mundo se acabe... O gênero se construiu em cima dessas besteiras; é pegar ou largar. Até os seus bons filmes precisam mostrar isso, senão perdem metade do público e dão prejuízo.
Fui ver o filme porque foi dirigido (ou pelo menos assinado) por Michel Gondry, que fez um dos mais intrincados e criativos filmes de FC dos últimos anos (Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, de 2004, com Jim Carey). É como ficar sabendo que um mesmo sujeito dirigiu O Show de Truman e Uma Noite no Museu. O Besouro Verde não é um filme de Gondry; ao que tudo indica é um filme de Seth Rogen, que escreve o roteiro e interpreta o Besouro. Rogen é um desses adolescentes de 30 anos que veem o cinema como um imenso PlayStation onde podem se divertir à vontade. Seu roteiro e sua interpretação se sobrepõem a tudo. O filme é um “buddy movie”, um filme sobre dois carinhas imaturos que enfrentam inimigos, brigam, explodem metade da cidade, salvam a vida um do outro de dez em dez minutos; e ao mesmo tempo se comportam como um casal homossexual, cheios de ciúmes, de arrufos, de crises de possessividade e de “não-falo-mais-com-você”. O Besouro Verde e Kato (interpretado por Jay Chou) são mais um casal Batman & Robin que poderia dizer (como disse Antonio Carlos Magalhães de sua convivência com Fernando Henrique Cardoso): “entre nós houve tudo, menos sexo”.
Como vc mesmo disse, este não é um filme de Gondry. Ele mesmo o diz. Pena.
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