sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

2423) WikiLeaks e os Little Brothers (10.12.2010)



(Julian Assange)

O mundo está acompanhando a batalha de Julian Assange, o cara do saite WikiLeaks, perseguido por governos do mundo inteiro, tendo à frente o dos EUA, por divulgar documentos secretos. Num mundo cada vez mais impregnado de informação transmissível (os telefonemas que dou, as compras que faço no cartão, os saites que acesso, os emails que recebo, as calçadas que percorro acompanhado por câmaras de segurança) somos massacrados pela impressão permanente do gigantismo do Estado. O mundo parece um imenso Big Brother, de olho nas pegadas que deixamos até dentro de nossa casa, copiando nossas impressões digitais em cada copo de plástico em que bebemos água, lendo nossos pensamentos e os transmitindo por encefalograma para algum misterioso Serviço de Segurança que arquiva tudo para utilização futura na hora em que a gente cometer a primeira bobagem.

O lado positivo desse 1984 permanente é o próprio gigantismo da máquina. Quanto mais peças tem uma máquina maior a possibilidade de que uma delas dê defeito, e, como afirmou genialmente Conan Doyle, nenhuma corrente é mais forte do que o mais fraco dos seus elos. Um acúmulo tão espantoso de informação aleatória não pode passar muito tempo sem deixar vazar (vazar = to leak) filetes de uma informação que o Sistema preferiria deixar desconhecida e inalcançável.

O WikiLeaks cumpre uma função parecida com a que Daniel Ellsberg fez ao roubar e divulgar os famosos “Papéis do Pentágono” sobre o Vietnam, ou o que Mark Felt, da CIA, fez ao se transformar no “Garganta Profunda” que ensinou o caminho das pedras para a investigação que levou à renúncia de Richard Nixon. São centenas de milhares de gravações, transcrições de conversas reservadas, grampos de telefones e o escambau, envolvendo presidentes de vários países, ministros, embaixadores, agentes de segurança. Sem falar em vídeos revelando atrocidades de guerra e saias-justas dos bastidores da política.

Fala-se tanto em liberdade de imprensa. Nenhuma imprensa é livre para revelar essas coisas. É algo fluido demais para ser provado, ou explosivo demais para ser manipulado em público. Às vezes uma revelação assim queima nosso adversário, mas também respinga napalm em meia dúzia de aliados ou inocentes neutros. A imprensa, mesmo livre, se auto-censura, se auto-limita e com isto, também, se auto-protege. Um desses grandes jornais (o New York Times, acho) tinha como lema: “All the news that’s fit to print”, “Todas as notícias adequadas para publicação”. Vejam o espírito retentivo e puritano desabrochando em toda sua plenitude! O lema do Wiki Leaks poderia ser: “Todas as notícias que é possível publicar”.

Num mundo governado pelo Big Brother, sugiro batizarmos essa galera do WikiLeaks como The Little Brothers. Os pequenos irmãozinhos que vão à luta, rasgam a barriga de governos corruptos, ditatoriais ou invasivos, e mostram a sujeira no interior de suas entranhas. Ninguém escapa.

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