Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
segunda-feira, 19 de julho de 2010
2287) Nem Deus nem a Ciência (7.7.2010)
(Raimundo Carrero)
O escritor Raimundo Carrero, que é um católico penitente, sofrido, dostoievskiano, declarou numa entrevista: “O homem moderno não acredita em Deus, e, mais gravemente, tem orgulho de dizer que não acredita em Deus. E não acredita na Ciência. Está fazendo as maiores loucuras com a Terra, e não acredita também no Espírito da Terra”. É uma boa maneira de colocar o problema da catástrofe ambiental generalizada que estamos começando a vivenciar, porque para alguns este estado de coisas se deve à Ciência, ou melhor, ao poder que a Ciência adquiriu no mundo, desbancando a Religião. Para mim, não é nada disso.
Fala-se que é a Ciência que está destruindo o mundo, e que o grande mal do Homem Moderno é o excesso de racionalidade, de lógica. Peço licença para discordar. Ciência, racionalidade e lógica tem certamente um papel importante em tudo quanto existe de ruim no mundo: as guerras, a exploração econômica de países pobres e de populações ignorantes, a destruição do meio ambiente e tudo o mais. Mas isso não é tudo, e na verdade não é nem um terço da história toda.
Lógica e racionalidade são atributos do neocórtex cerebral que o ser humano desenvolveu há pouco tempo (100 ou 200 mil anos). É a parte do cérebro capaz de pensamento abstrato, planejamento, linguagem, percepção. É o cientista dentro de nós, e é a parte mais recente do nosso cérebro. Só que ela não decide muita coisa: quem decide, quem nos mobiliza e nos faz agir, são estruturas mais profundas. Por exemplo: o que os cientistas chamam de cérebro mamífero (“sistema límbico”). O cérebro mamífero é típico das criaturas de sangue quente, que amamentam filhotes e cuidam deles com altruísmo e dedicação, e que se associam em hordas, bandos e manadas obedecendo a um “contrato social” instintivo. Esse contrato lhes diz que juntos estão mais seguros e mais felizes do que sozinhos; e que um gesto de generosidade feito hoje poderá ser retribuído amanhã. Sem isso, nenhum ser sobrevive, nenhuma espécie sobrevive, como aliás estamos a ponto de constatar, por nossa conta e risco.
No entanto, por dentro destes dois, existe o mais antigo. Todo ser humano tem um cérebro réptil, o mais antigo de todos, incrustado no centro do seu. Por trás dos males do mundo, ou pelo menos por trás desse trio que acabei de citar, o que existe, como fator propulsor, é um espírito predatório e destrutivo do ser humano. Um espírito egoísta e auto-centrado, que só reconhece a si próprio como objetivo e se comporta como se o mundo lhe pertencesse por direito. Eu diria que existe em muitas sociedades humanas uma espécie de Espírito Reptiliano, um espírito de sangue frio e olho de lince, permanentemente focado em tudo quanto possa contribuir para sua sobrevivência, mesmo que à custa da sobrevivência de quem quer que seja, inclusive dos seus semelhantes, do grupo a que pertence, do planeta que habita.
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