Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
2268) O Dia Dunga (15.6.2010)
Chegou, enfim! A Seleção vai estrear na Copa, sob as ordens de um técnico carrancudo, controlador, centralizador, secretista, militarista, e vai enfrentar uma seleção, a Coréia do Norte, de perfil carrancudo, controlador, centralizador, secretista, militarista... Pense numa sincronicidade grande! Não acho o time de Dunga o time ideal nem o time mais representativo do nosso futebol, mas acredito que pode ir mais longe do que a Seleção badaladíssima de 2006 foi. Tem condições de ir às semifinais, por exemplo. Mas não será campeã – não está no contrato.
Imagino que após a Copa de 2006 o técnico Parreira chamou a CBF e disse, “Chega, me dá o meu boné, vou embora, não sou palhaço”. A CBF chamou Dunga. “Olha, já foi tudo negociado. Eles garantiram que em 2014 seremos anfitriões, e campeões. O Brasil merece isso. Precisamos agora de alguém que perca em 2010 mas crie uma base forte para a seleção que será campeã na Copa seguinte. Com sorte, o técnico de uma será mantido até a outra, embora isto a gente não possa garantir. Mas o que precisamos agora é de alguém para ir pro sacrifício, o de perder uma Copa com o olho na próxima. As velhas raposas não toparam: Zagallo, Luxemburgo, Muricy, Felipão, Mano Menezes, os suspeitos habituais. Você, Dunga, não tem história como treinador. Quer correr o risco? Perder 2010 com a possibilidade de ganhar 2014?” O ídolo cinematográfico de Dunga (ele diz nas entrevistas) é Arnold Schwarzenegger. O que responderia Arnold, numa situação assim?
Claro que não posso provar, tudo isto é imaginação minha, mas minha imaginação de vez em quando acerta. Dunga tem feito um bem enorme à nossa Seleção, embora este bem fique eclipsado por suas atitudes antipáticas, principalmente contra a imprensa. (Ele não sabe, mas eu sei, que todo gesto para com a imprensa, tanto de simpatia quanto de antipatia, é multiplicado por dez. A imprensa funciona sempre como um zero à direita, em tudo.) Ele acabou com a tietagem, inclusive a dos repórteres (aqui pra nós, o nível intelectual e emocional da nossa reportagem esportiva numa Copa é comparável ao da imprensa inglesa ao tratar de adultérios de celebridades). E formou uma base de jogadores que, se mantiverem a integridade física, serão em 2014 um time tão experiente quanto o de 1970.
Ganharemos em 2014? Nunca se sabe. Em 1974 combinou-se que ganharia a Alemanha, dona da casa, mas a Holanda quase atrapalha, como quase atrapalhou a Argentina, dona da casa, em 78. As Copas de 1982 e 1986 foram Copas abertas, ganhava quem chegasse na frente. A de 1990 foi armada para a Itália, mas Argentina e Alemanha atropelaram na chegada. A de 1994 foi aberta de novo, e o Brasil ganhou por ser o menos ruim. A de 1998 era da França (lembram daquele domingo?). A de 2002, no Oriente, era de quem chegasse (fomos nós). A de 2006 era para a Alemanha, mas o time era tão fraco que não chegou lá. Esta aqui não sei de quem vai ser. Só sei que a de 2014 é nossa.
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