Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
quinta-feira, 24 de junho de 2010
2185) Capotraste ou braçadeira (10.3.2010)
É um pequeno acessório de metal e borracha que muitos violonistas usam, afixado transversalmente ao braço do violão, prendendo as cordas. Braçadeira é o nome mais comum, mas em outros países se usa “capotraste” (em inglês, diz-se apenas “capo”), para indicar que sua função é servir como se fosse a nova cabeça (capo, em italiano) do violão, aquela extremidade onde ficam as tarrachas. Serve para diminuir artificialmente a extensão do braço, fazendo-o começar mais em baixo, e iniciando a partir dali a área útil, a área onde a mão esquerda pode formar os acordes.
A braçadeira é apenas um recurso mecânico, que nada altera no instrumento. Todo mundo que toca produz a mesma coisa de maneira não-mecânica quando faz a chamada “pestana”, com o dedo indicador prendendo transversalmente as cordas. Ele é de grande utilidade quando a gente sabe acompanhar uma música qualquer com uma série de acordes difíceis, e em certa hora precisa cantar essa música num tom mais alto. Transpor os acordes para outro tom exigiria fazer novos acordes, e isso nem todo mundo sabe. Com a braçadeira, basta prendê-la no ponto necessário, e tocar, na nova posição, os mesmos acordes que já fazia, só que agora eles estão produzindo notas mais altas (mais agudas). A gente continua tocando do jeito que sabia, mas o tom da música fica mais alto. (E se a intenção for cantar a música num tom mais baixo, pode-se fazer a mesma coisa, e cantá-la uma oitava abaixo).
A braçadeira me permite pegar, por exemplo, as numerosíssimas músicas que sei tocar em ré maior (um dos meus tons preferidos para dedilhar), e transpô-las instantaneamente para qualquer um dos tons sucessivos: mi, fá, sol, etc. É um recurso para violonistas limitados. Você raramente vê um violonista de jazz ou de bossa nova usando braçadeira. Ela é típica da folk music norte-americana, por exemplo, porque esse gênero é pródigo em moças e rapazes bem intencionados, que querem se exprimir através da canção popular (e quem não quer?), mas só sabem tocar as músicas em ré maior. Sem braçadeira, não tinha show de Bob Dylan, de Joan Baez, de Peter, Paul & Mary, de Phil Ochs, de Donovan. Cada um subia no palco e tocava suas musiquinhas nos acordes de dó maior ou de ré, a noite inteira, variando os tons de acordo com o traste em que a braçadeira ia sendo afixada entre uma música e outra.
A subida de tom provocada pelo uso da braçadeira acarreta também uma mudança de timbre que os aficionados, como eu, acham muito agradável. O violão todo fica mais agudo, as cordas de aço soam de uma maneira mais metálica, e as cordas de nylon ficam soando quase como cordas de viola. Tudo soa com mais intensidade, e nesse caso a má afinação do violão, quando é o caso, chama muito mais a atenção do que num violão normal, com as cordas soltas. Curiosamente, é um acessório típico do violão acústico, e não consigo lembrar nenhum músico que costume usá-lo para tocar guitarra elétrica.
A braçadeira é este negócio que está no violão de Paco de Lucia neste vídeo?
ResponderExcluirhttp://www.youtube.com/watch?v=To09Km0y8ic
(Paco de Lucia tocando Tico-tico no fubá)
Exatamente. Os modelos são muito variados, cada um "agarra" o violão de um modo diferente. E viva Paco de Lucia, novo pra caramba, e tocando Zequinha de Abreu como gente grande.
ResponderExcluirse eu colocar o "capo" de baixo para cima vai mudar alguma coisa no som?
ResponderExcluirTalvez não. Mas pelos modelos que conheço a pressão maior ocorre na parte de cima do capo, talvez porque ali ele está apertando as cordas mais grossas. Mesmo que seja assim, se você for executar algo somente nas cordas de baixo, inverter a posição PODE garantir mais pressão e melhor som ali. Mas estou apenas especulando, não tenho certeza.
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