Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
2025) A Missão Folclórica de Mário (4.9.2009)
Encontrei por acaso e comprei às pressas um pequeno tesouro cuja publicação já tinha visto anunciada na imprensa. Trata-se da caixinha Mário de Andrade – Missão de Pesquisas Folclóricas – Música Tradicional do Norte e Nordeste - 1938.
Esse título diz o essencial. Em 1938, Mário era chefe do Departamento de Cultura da Prefeitura de São Paulo, e idealizou a viagem de um grupo de pesquisadores pelo Norte e Nordeste do Brasil, munidos de gravador, para registrar a música folclórica daqueles (destes) cafundós.
Mudanças políticas fizeram abortar esse projeto, que iria ter uma abrangência muito maior. Ainda assim, os pesquisadores fizeram um grande número de registros, que foram levados de volta para São Paulo e ficaram arquivados.
Durante anos, esse material era acessível apenas aos pesquisadores que fossem lá consultá-lo. Agora, o SESC-SP lançou uma edição comercial. Se quiser comprar, vá aqui: http://tinyurl.com/2w3dtlc.
São seis CDs de músicas gravadas “in loco”.
O CD 1 (34 faixas) tem música de Pernambuco. Os CDs 2, 3 e 4 têm músicas da Paraíba (num total de 158 faixas); o 5 se divide entre Paraíba e Maranhão (50 faixas), e o 6 entre Pará e Minas Gerais (37 faixas).
São 279 faixas no total. E há mais um livretinho, do tamanho de um CD, com os textos (em português e inglês): “Viagem Pessoal e Missão Institucional” (Carlos Augusto Calil), “As Missões e o Progresso” (Danilo Santos de Miranda), “Os Registros Musicais da Missão de Pesquisas Folclóricas” (Marcos Branda Lacerda), “Missão: as Pesquisas Folclóricas” (Flávia Camargo Toni) e “O Nacional e o Outro” (Jorge Coli). Numerosas reproduções de fotos e desenhos da época. O pacote todo me custou 70 reais e foi a coisa mais barata que comprei nos últimos tempos.
No momento em que escrevo estas linhas, estou escutando (pela primeira vez na minha vida) as vozes de Dimas Batista e Belarmino de França, cantando mourão de sete linhas, martelo agalopado e outros gêneros, numa gravação realizada na cidade de Pombal, em 11 de abril de 1938. Dimas tinha 17 anos incompletos; Belarmino tinha 41.
Em outras faixas aparece Lourival Batista, o grande “Louro”, na época com 23 anos. Há uma foto dos três juntos. Nunca conheci Dimas ou Belarmino, mas fui amigo de Louro quanto ele já tinha 60 anos. Difícil acreditar que é ele, aquele rapaz de calça branca e frouxa, um paletozinho apertado, gravata muito curta, suspensórios pretos, rosto moreno de feições marcadas, cabelos negros e bastos penteados para o lado.
Vejam o que é o Brasil. Mário de Andrade trabalhava para a Prefeitura de São Paulo. O que diabo o obrigava a gastar o dinheiro dos paulistanos mandando gente com um gravador até a Paraíba, até a distante Pombal, para gravar os Batista, que nem sequer eram “os Batista” nessa época?! Mário atirava no que via e acertava no que não via. Era outro Brasil; eram outros brasileiros.
Boa tarde, Sr. Bráulio.
ResponderExcluirEu também foi através de Mário de Andrade, que ouvi os Irmãos Batista. os Caras cantavam com uma facilidade como se estivem conversando.
Chico Medeiros.