segunda-feira, 10 de maio de 2010

2024) Budd Schulberg (3.9.2009)



Morreu este mês o escritor e roteirista Budd Schulberg, hoje conhecido apenas por cinéfilos. Para estes, ele era o cara que ganhou o Oscar de Melhor Roteiro, em 1954, com o filme Sindicato de Ladrões, de Elia Kazan. Para os de viés mais politizado, era o delator indigno que, ao ser acusado de comunista durante a época da caça-às-bruxas no Macartismo, entregou uma porção de colegas esquerdistas, ajudando a mandá-los para a Lista Negra de Hollywood. Para mim, mais do que isso tudo, Schulberg é o autor de O que faz Sammy correr? (“What makes Sammy run?”), romance de 1941 que é um dos retratos mais impiedosos da indústria cinematográfica americana e dos indivíduos carreiristas que em grande parte a compõem.

Li esse livro na adolescência, numa versão condensada na “Seção de Livros” de Seleções. Vim reler no original, depois de adulto, e recomendo com entusiasmo. (Há traduções brasileiras, várias, que podem ser encontradas no portal Estante Virtual.) O narrador, um jornalista, começa a prestar atenção num office-boy que faz seu trabalho a toda velocidade e não deixa escapar nenhuma oportunidade de “mostrar serviço” e subir na escala profissional. Em pouco tempo, Sammy é promovido a repórter, redator, editor... Logo está em Hollywood, e poucos anos depois o narrador, que continua um jornalista mal pago, vê Sammy Glick transformado num dos grandes “tycoons” de Hollywood. Os dois mantêm uma relação tensa de amizade (em lembrança dos velhos tempos) e raiva, porque o narrador não se conforma com a falta de caráter e o oportunismo de Sammy, que é capaz de qualquer coisa para subir na vida.

Schulberg ficou marcado em Hollywood por ter sido um dos que, durante a perseguição aos comunistas na era do Macartismo, denunciou alguns colegas. Isto lhe valeu a fama de dedo-duro que abalou sua reputação. Entrevistado pouco antes de morrer, ele minimizava a importância do episódio. Ex-comunista, tinha se desiludido com o comunismo depois da execução de vários escritores russos de quem tinha ficado amigo, entre eles o contista Isaac Babel. “Além do mais,” disse ele, “não dei a eles nenhum nome novo. Todos os nomes de comunistas que citei, como Ring Lardner Jr., eram de pessoas que eles já conheciam”. Todo mundo enxerga Sindicato de Ladrões como uma auto-defesa de Schulberg e do diretor Elia Kazan (que também denunciou comunistas durante o Macartismo), mostrando que em certas circunstâncias ser um delator (como Marlon Brando no filme) é um ato de rebeldia e coragem.

Para mim, Schulberg será sempre o criador de Sammy Glick, o carreirista desenfreado, um personagem feito de palavras inglesas mas que eu próprio já reencontrei com nomes e rostos diferentes, e falando bom português. Oportunista, plagiador, blefador emérito. Como diz uma personagem: “Sammy, você é grande. Que outro roteirista seria capaz de comparar o roteiro que ainda nem escreveu com um clássico da literatura que nunca leu?”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário