Artigos de Braulio Tavares em sua coluna diária no "Jornal da Paraíba" (Campina Grande-PB), desde o 0001 (23 de março de 2003) até o 4098 (10 de abril de 2016). Do 4099 em diante, os textos estão sendo publicados apenas neste blog, devido ao fim da publicação do jornal impresso.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
2009) O livro de auto-ajuda (16.8.2009)
O gênero chamado de “auto-ajuda” virou uma espécie de saco de pancadas dos críticos literários e dos jornalistas de cultura. O público corre atrás desses livros e os compra às mancheias, enquanto os críticos descem o sarrafo e nivelam todos na mesma vala comum de picaretagem. Dizem que o gênero é novidade. Não é. Novidade é estar vendendo tanto que requer uma categoria à parte nas listas dos “Mais vendidos” da imprensa, para não desalojar da lista principal os títulos de outros gêneros.
A auto-ajuda não vem de hoje. Os best-sellers de auto-ajuda quando eu era menino chamavam-se O Poder do Pensamento Positivo de Norman Vincent Peale, Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas de Dale Carnegie, A Vida Sexual – Amor e Felicidade no Casamento de Fritz Kahn e outros clássicos. A maior parte do gênero, no entanto, era de volumes e mais volumes de apólogos cristãos, histórias edificantes, narrativas dadas como verídicas que serviam como exemplo de conduta moral, fé e cidadania. A auto-ajuda de meio século atrás era um gênero editorial fortemente ligado às áreas da Medicina, Psicologia, Educação e Civismo.
Tais livros continuam florescendo, porque essas coisas não se extinguem do dia para a noite. A auto-ajuda que propõem consiste em ensinar às pessoas um processo harmonioso de integração a uma sociedade democrática, cristã, baseada em valores morais como a solidariedade, o altruísmo, a fé em Deus, o casamento patriarcal e monogâmico, etc. Tais livros estão em nossas livrarias, mas agora convivem com um outro tipo de auto-ajuda, que é resultado das mudanças que sofreu a sociedade brasileira neste meio século. É essa a novidade.
Por exemplo: a quantidade enorme de livros que nos ensinam a ficar ricos sem remorsos. Livros que nos dizem: ganhe dinheiro, fique rico, seja ousado, não tenha medo, não tenha escrúpulos, riqueza não é crime nem é pecado, aproveite as coisas boas da vida que o dinheiro pode comprar. O refrão é: “Você merece”. Você é especial, é predestinado, e além do mais já sofreu tanto, já ralou tanto, passou por cada uma... Vá à luta! Fique rico! Você merece! É uma diluição da ética protestante e do espírito do capitalismo.
Outra novidade é a auto-ajuda de incentivo psicológico travestido em linguagem místico-simbólica (astrologia, cabala, runas, numerologia, etc.). É um misticismo-a-varejo que vai substituindo os conselhos dos párocos de aldeia e os sermões dos padres urbanos. Em vez do Deus católico, cultivam uma geometria de forças ocultas (o plano astral, os espíritos, etc.). Se alguém está sendo prejudicado por essa invasão bibliográfica, são os manuais de fé cristã.
O mercado de auto-ajuda reflete a passagem de uma sociedade cristã, estática, atrelada à tradição e altruísta para uma sociedade mescladamente agnóstica e mística, dinâmica, atrelada ao contemporâneo, e basicamente egocêntrica. São manuais de sobrevivência nesta nova selva, que não cessa de se expandir.
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