quinta-feira, 6 de maio de 2010

2001) A nova revolução industrial (7.8.2009)



(Max Born, em 1921)

Surfista não vê a onda que está surfando. Ele só enxerga seu entorno. Para ver o formato da onda, ele vai ter que recorrer ao filmezinho que a namorada fez com o celular. Por falar em celular, nós ainda não temos muita idéia do que seja essa revolução vídeo-digital-eletrônica que estamos vivendo. Só enxergamos o nosso entorno: milhões de DVDs piratas, celular com Internet e câmara de filmar, conexão banda-larga com o mundo inteiro, filmes baixados de graça pela linha telefônica e assistidos num computador portátil.

Folheando o fininho mas precioso volume Problemas da Física Moderna (Ed. Perspectiva, 1969), coletânea de palestras de grandes cientistas, reencontrei uma observação de Max Born, Prêmio Nobel de Física em 1954, ao comentar a Revolução Industrial durante o que ele chama de “Idade dos Combustíveis Fósseis”: “Os sociólogos falam de uma revolução industrial, o que constitui um termo inexato, pois o que ocorreu de fato foi uma revolução na exploração da energia. Tudo o que se seguiu foi apenas um fruto dessa transformação”.

Até o século 17, todas as realizações materiais da Humanidade eram feitas “pelos músculos do homem e pelos animais domésticos auxiliados por moinhos de água e de vento”. A exploração do carvão (o primeiro combustível fóssil) e a invenção da máquina a vapor mudaram tudo; quando se deu o salto para o segundo combustível fóssil, o petróleo, aí o mundo decolou.

Como será vista e interpretada, no futuro, a revolução que estamos vivendo? Eu diria, tentando adaptar as palavras de Born, que é uma revolução na reprodução, armazenamento e circulação de dados. “Reprodução” envolve esse aspecto que desmoronou a indústria fonográfica: foi inventado um sistema de registro de dados que os torna facilmente copiáveis por qualquer pessoa, em pouquíssimo tempo e a custo quase zero, pois a tecnologia para isso se torna mais barata a cada ano que passa. “Armazenamento” envolve o aspecto de que os chips e HDs que armazenam essa informação crescem para dentro, ou seja, são capazes de uma subdivisão quase ilimitada do espaço, e assim conseguem armazenar cada vez mais dados em cada vez menos espaço. E “circulação” lembra o fato de que existe uma rede gigantesca abarcando todo o planeta com cabos e fios telefônicos (e em anos mais recentes com ondas de rádio, ou “wireless”) feita sob medida para o transporte desse tipo de informação.

A revolução na exploração de energia levou a uma sociedade industrial, baseada nas transformações da matéria e tendo como resultado uma espantosa melhoria no aspecto “hardware” da vida humana: transportes, moradia, construções e na produção de máquinas em geral para todo tipo de finalidade. A revolução dos dados, ou da informática, proporcionou até agora algo parecido com relação ao “software”: a cultura, a educação, a arte, e, inevitavelmente, o entretenimento e o lazer lucrativo. O próximo passo é que ainda não fazemos idéia do que será.

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